segunda-feira, 10 de junho de 2013
Agora é que se lembraram?
O músico norte-americano de origem mexicana, Sixto Rodríguez, teve no início da década de 70 uma carreira musical sem sucesso e retirou-se do activo.
No entanto, as suas canções eram idolatradas na África do Sul, na oposição ao regime do Apartheid. Lá, os seus discos vendiam muito, mas o autor desconhecia esse facto.
Sixto Rodríguez esteve incógnito por muito tempo. Especulou-se sobre o seu desaparecimento. Dizia-se que tinha morrido súbitamente em palco, ou que se havia suicidado.
Afinal o autor da canção “Sugar Man” apenas era um cidadão anónimo em Detroit, operário, vivendo do seu parco salário, refugiado num pequeno apartamento.
Até que há algum tempo partiu-se ao seu encalço e foi naturalmente descoberto na rua, à janela de sua casa.
No ano passado o canal norte-americano de Televisão CBS fez uma reportagem sobre a redescoberta de Rodríguez no famoso programa «60 Minutes». Também em 2012 foi estreado o documentário «Shearching For Sugar Man». Venceu o Óscar de melhor filme no género documentário do ano e encontra-se agora em exibição em Portugal.
Uma história incrível, verdadeira e tocante.
É sempre tempo de se fazer a devida justiça ao artista e mais vale tarde do que nunca, mas agora é que se lembraram dele? Sixto Rodríguez está quase a completar 71 anos de idade e voltou aos palcos. Esteve anunciado no cartaz do Festival Primavera Sound deste ano no Porto, mas viria a cancelar a actuação.
Há dez anos passei na Rádio o tema “Sugar Man” de Sixto Rodríguez, estimulado por uma versão feminina do mesmo tema que estava a ter transmissão regular na RADAR. Não faltaram as habituais vozes do contra quando são colocados on Air temas musicais desconhecidos. Uma reacção habitual por parte da maioria avessa à descoberta do novo (não da novidadezinha).
Agora que é cool conhecer a música de Rodríguez, lembro-me das frases que muitas vezes ouvi nesta vida dedicada à Rádio, quando passava música desconhecida, no tempo anterior à implantação e massificação generalizada das playlists.
A passagem do Tempo não pára de nos surpreender e, curiosamente (leia-se: ironicamente), reencontro ao acaso algumas dessas pessoas que tanto clamavam sobre a "música esquisita" que divulgava na Rádio, nesses tempos de liberdade criativa. Encontro-as em alguns concertos desses mesmos artistas, outrora considerados “inaudíveis”, com o respectivo disquinho debaixo do braço, em busca de um autógrafo no final do espectáculo.
Como recorrentemente se ouve por aí, Karma is a bitch!
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O que eles dizem:
A Rádio de autor acabou. Agora as criaturas que estão lá, estão lá como podiam estar a vender margarina.
Rui Reininho
In: «Estranha Forma de Vida»
Antena1, Sábado 08 de Junho 2013