domingo, 11 de junho de 2017
Corrida Contra o Destino
Vanishing Point
Kowalski é um homem de meia-idade que teve várias profissões. Depois de ter estado na guerra do Vietname, foi agente policial e corredor profissional de carros e motociclos. Kowalski ganha agora a vida a entregar automóveis entre vários pontos dos Estados Unidos da América. Numa sexta-feira à noite recebe mais um serviço. Tem de entregar em tempo recorde um modelo do mítico Dodge Challenger RT, de 1970, fazendo em quinze horas a ligação por estrada entre Denver, no Colorado, e San Francisco, na Califórnia. Qualquer paragem desnecessária abortaria a hora de entrega. Kowalski força o desafio. Então, a fim de cumprir com o combinado, viaja prego a fundo de noite e de dia.
À custa do consumo de numerosos speeds, o condutor que corre contra o relógio desobedece às autoridades na primeira de várias ordens de paragem por excesso de velocidade. A situação de desobediência à polícia é reincidente durante o acelerado percurso. Inicia-se em crescendo a perseguição policial e Kowalski consegue sempre ludibriar as várias barreiras que as patrulhas lhe vão erguendo nas estradas por onde vai passar.
Numa rádio local às portas de San Francisco, o pessoal de serviço (técnico e animador) captam as comunicações dos agentes que estão no encalço de Kowalski. O animador – de alcunha 'Super Soul' – encontra aqui a inspiração para o seu invulgar dia na Rádio (é absolutamente imperdível o início de emissão de 'Super Soul'). Começa a dissertar em directo para Kowalski. Fá-lo poeticamente. Chama a Kowalski o "Último Herói Americano". 'Super Soul' fala directamente para o seu herói do asfalto, medindo cada palavra, sabendo que para além dos seus muitos ouvintes, também tem a própria polícia a ouvi-lo. A ultra sensibilidade profética deste homem, uma espécie de "Super Alma", é a única companhia na corrida solitária de Kowalski. 'Super Soul' é o único a ter a completa visão dos acontecimentos. É a antena orientadora do desesperado fugitivo cujo único “crime” foi não ter parado no sinal STOP.
Kowalski é um homem de meia-idade que teve várias profissões. Depois de ter estado na guerra do Vietname, foi agente policial e corredor profissional de carros e motociclos. Kowalski ganha agora a vida a entregar automóveis entre vários pontos dos Estados Unidos da América. Numa sexta-feira à noite recebe mais um serviço. Tem de entregar em tempo recorde um modelo do mítico Dodge Challenger RT, de 1970, fazendo em quinze horas a ligação por estrada entre Denver, no Colorado, e San Francisco, na Califórnia. Qualquer paragem desnecessária abortaria a hora de entrega. Kowalski força o desafio. Então, a fim de cumprir com o combinado, viaja prego a fundo de noite e de dia.
À custa do consumo de numerosos speeds, o condutor que corre contra o relógio desobedece às autoridades na primeira de várias ordens de paragem por excesso de velocidade. A situação de desobediência à polícia é reincidente durante o acelerado percurso. Inicia-se em crescendo a perseguição policial e Kowalski consegue sempre ludibriar as várias barreiras que as patrulhas lhe vão erguendo nas estradas por onde vai passar.
Numa rádio local às portas de San Francisco, o pessoal de serviço (técnico e animador) captam as comunicações dos agentes que estão no encalço de Kowalski. O animador – de alcunha 'Super Soul' – encontra aqui a inspiração para o seu invulgar dia na Rádio (é absolutamente imperdível o início de emissão de 'Super Soul'). Começa a dissertar em directo para Kowalski. Fá-lo poeticamente. Chama a Kowalski o "Último Herói Americano". 'Super Soul' fala directamente para o seu herói do asfalto, medindo cada palavra, sabendo que para além dos seus muitos ouvintes, também tem a própria polícia a ouvi-lo. A ultra sensibilidade profética deste homem, uma espécie de "Super Alma", é a única companhia na corrida solitária de Kowalski. 'Super Soul' é o único a ter a completa visão dos acontecimentos. É a antena orientadora do desesperado fugitivo cujo único “crime” foi não ter parado no sinal STOP.
And there
goes the Challenger, being chased by the blue, blue meanies on wheels. The
vicious traffic squad cars are after our lone driver, the last American hero,
the electric centaur, the, the demi-god, the super driver of the golden west!
Two nasty Nazi cars are close behind the beautiful lone driver. The police
numbers are gettin' closer, closer, closer to our soul hero, in his soul
mobile, yeah baby! They about to strike. They gonna get him. Smash him. Rape...
the last beautiful free soul on this planet. But – it is written, if the evil
spirit arms the tiger with claws, Braman provideth wings for the dove. Thus
spake the super guru!
A perseguição policial é inter-estadual. Kowalski vê-se obrigado a entrar a toda a velocidade no deserto do Nevada, já em pleno dia e debaixo dum impiedoso sol a pique. É o momento de viragem. O silêncio total a cruzar os círculos e rectas na dura areia daquele chão. Só o roncar do potente motor do Challenger quebra aquele silêncio sepulcral do calor do meio-dia, no coração de um deserto que ninguém, nem mesmo a autoridade perseguidora ousa entrar. Kowalski, atormentado pelas tristes memórias do seu passado (revividas em episódicos flashbacks) e sob o efeito do consumo exagerado de speeds, ingeridos com o intuito de se manter acordado, tem encontros inesperados com personagens surreais vindas não se sabe de onde e idas não se sabe para onde.
A dura realidade confunde-se com a pura alucinação. 'Super Soul', já adivinhando o desfecho de tão perigosa aventura de Kowalski, é silenciado com brutalidade por parte da populaça que em Cisco espera pela passagem do herói em fuga... herói que o próprio 'Super Soul' criou e efabulou através das mágicas ondas hertzianas. Kowalski vê – finalmente e de forma absoluta - a luz ao fundo do seu próprio túnel existencial. Abraça-a frontalmente. Terminara a sua corrida contra o destino. A Rádio foi silenciada e a música acabou!
A perseguição policial é inter-estadual. Kowalski vê-se obrigado a entrar a toda a velocidade no deserto do Nevada, já em pleno dia e debaixo dum impiedoso sol a pique. É o momento de viragem. O silêncio total a cruzar os círculos e rectas na dura areia daquele chão. Só o roncar do potente motor do Challenger quebra aquele silêncio sepulcral do calor do meio-dia, no coração de um deserto que ninguém, nem mesmo a autoridade perseguidora ousa entrar. Kowalski, atormentado pelas tristes memórias do seu passado (revividas em episódicos flashbacks) e sob o efeito do consumo exagerado de speeds, ingeridos com o intuito de se manter acordado, tem encontros inesperados com personagens surreais vindas não se sabe de onde e idas não se sabe para onde.
A dura realidade confunde-se com a pura alucinação. 'Super Soul', já adivinhando o desfecho de tão perigosa aventura de Kowalski, é silenciado com brutalidade por parte da populaça que em Cisco espera pela passagem do herói em fuga... herói que o próprio 'Super Soul' criou e efabulou através das mágicas ondas hertzianas. Kowalski vê – finalmente e de forma absoluta - a luz ao fundo do seu próprio túnel existencial. Abraça-a frontalmente. Terminara a sua corrida contra o destino. A Rádio foi silenciada e a música acabou!
Esta é, sucintamente, a incrível história contada no filme «Vanishing Point» de Richard C.
Sarafian (1971). É o maior clássico americano de sempre do estilo Road
Movie (há um remake de 1997 altamente NÃO recomendável. O
original é - literalmente - inultrapassável!). A Rádio e o destino individual de
um homem solitário a tentar fugir de si próprio.
Não há muitos diálogos, há sim muitos monólogos, com destaque evidente para as palavras do animador de rádio 'Super Soul' em fala directa para o seu 'The Last American Hero". Os "bandidos" são os seus perseguidores e o verdadeiro protagonista de «Vanishing Point» é o carro. Essa autêntica bomba-relógio que levou Kowalski ao seu último destino.
Não sabemos o que aconteceu depois a 'Super Soul'. Na América ambivalente entre o espírito libertador e o conservadorismo pudico, apenas podemos especular sobre o que terá acontecido àquela "super-alma". Não seria muito difícil adivinhar o que aconteceria àquele comunicador de Rádio se o seu santo ofício fosse praticado em Portugal. 'Super Soul' encarna o sonho de todo e qualquer Animador de Rádio: ser livre!
Não há muitos diálogos, há sim muitos monólogos, com destaque evidente para as palavras do animador de rádio 'Super Soul' em fala directa para o seu 'The Last American Hero". Os "bandidos" são os seus perseguidores e o verdadeiro protagonista de «Vanishing Point» é o carro. Essa autêntica bomba-relógio que levou Kowalski ao seu último destino.
Não sabemos o que aconteceu depois a 'Super Soul'. Na América ambivalente entre o espírito libertador e o conservadorismo pudico, apenas podemos especular sobre o que terá acontecido àquela "super-alma". Não seria muito difícil adivinhar o que aconteceria àquele comunicador de Rádio se o seu santo ofício fosse praticado em Portugal. 'Super Soul' encarna o sonho de todo e qualquer Animador de Rádio: ser livre!
Hey Kowalski, you out there?