sábado, 30 de junho de 2007

As férias chegaram para a «Rádio Crítica».

Sempre senti que a eficácia de fazer Rádio tem de se apreciar com uma certa distancia (não distanciação), um certo desprendimento parecido com afastamento. É por dentro que a Rádio se faz, mas é do lado de fora que ela se “vê”.






E o que se ouve agora? Uma canção simples, uma sinfonia trópica e dolente: "Estate" por João Gilberto. Está lá tudo. O resto vem em Setembro. Até lá.

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O que eles dizem (25)

Gosto de ouvir. Já aprendi muito a ouvir atentamente. A maioria das pessoas nunca ouve.
Ernest Hemingway

Um quadro, num museu, ouve mais opiniões ridículas do que qualquer coisa no mundo.
Edmond de Goncourt


O Pensamento Fragmentado

A forma de falar sem argumentos está extremamente difundida entre os jovens. Basta ouvir uma das suas rádios, nas quais se alternam cançonetas, cartas, comentários, piadas sem qualquer ordem especial.
(…)
Esta forma de pensar corresponde à música das cançonetas e, mais ainda, à música de discoteca, repetitiva e fragmentada. São poucos os jovens que estão em condições de gostar de uma sinfonia do início ao fim.

Francesco Alberoni
In: «A Esperança»

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Praia é a mais recente emissão de Como no Cinema, agora disponível pela primeira vez na Internet. Destaque para a voz da poetisa Maria Azenha e para as ancestrais & novas polifonias da ilha da Córsega.







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(O Cinema vai para a praia e regressa em Setembro para as derradeiras emissões)

A maioria das pessoas ignora a maioria da poesia porque a maioria da poesia ignora a maioria das pessoas.
Adrian Mitchell

quinta-feira, 28 de junho de 2007

TV-mentira / Rádio-verdade

Numa 2ª feira à noite: na TV, RTP-1, «Prós & Contras» sobre a Europa, com a presença do presidente da Comissão Europeia, entre outros, falando de coisas inconjecturáveis, de realizações políticas impossíveis na União Europeia a curto e médio prazo. Inverdades (para ser politicamente correcto), lançando poeira aos olhos de povos muito distintos uns dos outros e com uma ideia muito vaga sobre o"europeísmo". Salvou-se a participação do ex-presidente da república Jorge Sampaio. Talvez o único a poder estar mais próximo das verdades que se devem dizer sobre toda esta complexidade de uma Europa a 27, uma vez que já não é um interveniente directo e activo nas possíveis decisões políticas. Sampaio tirou, com elegância, partido dessa "vantagem". Ou ainda, noutra noite de início de semana, um debate minimizador sobre a cidade do Porto. “Um prestígio à procura de poder”, como alguém disse.
Na Rádio, das 23 à meia-noite na Antena2: «Questões de Moral» escrito, realizado e apresentado por Joel Costa: "Democracias Imperiais"; "Liberdade, Liberalismo e Indivíduo"; "O Estado da Razão"; "Uma Teologia Democrática"; "Os Cínicos da Sociedade Fria"; "Uma Democracia da Indiferença"; "As Metamorfoses da Sociedade Fria"; "O Silêncio e as Elites". «Questões de Moral» tem muito menos visibilidade/audiência que «Prós &Contras», mas é muitíssimo mais profundo, acutilante, directo e claro no que tem a dizer e a (in)formar. Joel Costa escarrapacha o que é a nossa vida de hoje e como estamos a passar ao lado da tela. Por completo.
Mas o contrário também se aplica nesta aparente desigualdade de forças entre TV e Rádio, quando acontecem no mesmo dia e à mesma hora.


TV-verdade / Rádio-mentira

Numa 5ª feira à noite: na SIC-Notícias, «Negócios da Semana» com um entrevistado inimputável: Henrique Medina Carreira. Cada frase, uma ideia ("Acha que isto é um país de gente com juízo?"; "Não acha que esta é uma sociedade tonta?"), cada ideia uma verdade, cada verdade, uma solução e a cada solução por ele apontada, ouvidos moucos por parte dos decisores políticos e dos decisores económicos. "Portugal não pode estar aqui encolhidinho e esquecer-se do mundo"; "Se mundo não muda, temos que mudar nós". Bastaria um governo com dez homens assim e mudava-se a face deste país… e não era para pior! Juntava-lhes Luís Saldanha Sanches e o elenco do «Eixo do Mal» [SIC-Notícias]. Nas rádios em geral, fraudes musicais (música dos "nossos grandes anos"), com algumas cançonetas de gosto mais que duvidoso, saídas em pacotilha single há dias ou semanas. A memória ou é muito má ou é muito curta. Ou é ambas as coisas, o que vai dar no mesmo. Horas e horas a fio com melodias light gastas e bolorentas. Tudo a anos-luz do conceito Music For a New Society. Ainda assim, coisas boas a decorrerem em simultâneo nalguns ares: «Terra do Zeca» concerto de homenagem a José Afonso, transmitido em directo na Antena1; «Banda Sonora» no RCP; «Jornal das 23» na Renascença. E outros pontos de interesse ainda, dependendo dos gostos, preferências e apetências dos ouvintes de Rádio em Portugal. Apesar de tudo, não é à toa que vários estudos apontam a Rádio como sendo um órgão de comunicação social mais credível que a Televisão.


A televisão é como as torradeiras: carrega-se no botão e sai sempre a mesma coisa.
Alfred Hitchcock

Toda a gente tem um objectivo na vida. Talvez o vosso seja ver televisão.
David Letterman

Pensar incomoda como andar à chuva.
Fernando Pessoa

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Ecos de uma noite nas notícias da Rádio

Em 2006 foram gastos mil e quatrocentos milhões de euros no Serviço Nacional de Saúde (SNS) em tratamentos directamente derivados do consumo de tabaco. O que não foi dito nas notícias da Rádio é que o imposto que o Estado arrecada com a venda do tabaco é de 76%. Em 2003, o Estado ganhou mil e duzentos e vinte milhões de euros com esse imposto. Desde então, o tabaco já aumentou várias vezes e, nalgumas dessas vezes, muito (segundo os consumidores). À luz dos dias que correm, talvez a despesa do SNS seja sustentada pelo vício tabagista, coisa que a Rádio não informou. Um “pequeno” pormenor que daria largueza horizontal à informação transmitida. No entanto, o final da notícia radiodifundida foi contundente e elucidativo: uma pessoa morre a cada dez segundos no mundo por causa do fumo do tabaco.
Eu, que não sou fumador, frequento há vinte anos locais de trabalho em que o fumo impera permanentemente. Não sou fundamentalista quanto às leis (discriminatórias? protectoras? proteccionistas? utópicas?) sobre os locais em que se deve/pode ou não fumar mas, apesar de saber que um dia aparecerá uma desculpa qualquer - natural ou artificial - para me fazer retirar da face da Terra, gostaria ao menos que não fosse um enfisema pulmonar ou um cancro na garganta que não paguei para ter.


Todas as formas de vício são más, seja o narcótico, o álcool, a morfina ou o idealismo.
Carl Jung

terça-feira, 26 de junho de 2007

Infoinclusões

Contributos para uma literacia mediática. Dicas, palpites, sugestões e reflexões sobre a dita Sociedade da Informação. Comentários, críticas e observações do espaço público mediático.

É um novo blogue, inaugurado a 11 de Fevereiro, sobre o consumo dos média e as questões de cidadania, na dita "Sociedade de Informação": «Infoinclusões» de Vítor Soares, ex- jornalista de rádio, onde trabalhou 35 anos. É um dos nomes clássicos (e dos mais discretos) da Rádio Comercial das décadas de 70, 80 e 90. É ouvinte atento de rádio, mas não só. Vítor Soares debruça-se sobre todo o panorama mediático nacional. É pertinente nas suas abordagens e coloca questões de difícil resposta. Às vezes, ele próprio avança com respostas e possíveis caminhos para os temas que aborda. Dotado de forte sentido crítico, partilha o seu ponto de vista na blogosfera. Não é para isso que servem os blogues temáticos sobre média?

«Infoinclusões» de Vítor Soares não é mais um blogue. É um blogue a ter em conta.

(...) ser capaz de ler não define a literacia no complexo mundo de hoje. O conceito de literacia inclui a literacia informática, a literacia do consumidor, a literacia da informação e a literacia visual. Por outras palavras, os adultos letrados devem ser capazes de obter e perceber a informação em diferentes suportes. Além do mais, compreender é a chave. Literacia significa ser capaz de perceber bem ideias novas para as usar quando necessárias. Literacia significa saber como aprender".
STRIPLING, Barbara K. ERIC,1992, in CTAP Information Literacy Guidelines K-12, http://www.ctap4.org/infolit/

Vítor Soares
Produtor/consumidor de média, cidadão do mundo.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

As notícias que dão conta da minha morte são manifestamente exageradas!


Ass: Rádio




O que eles dizem (24)

"A rádio vai morrer muito em breve e só a publicidade é que decidirá por quanto tempo é que ela se mantém".
(...)
"O estado actual da rádio deve-se "às novas tecnologias, como a Internet ou o iPod".
(...)
"Só tornando a ser um espectáculo de som é que a rádio terá um bom futuro".

Luís Filipe Costa


"Está numa encruzilhada"
(...)
"Por um lado, as receitas publicitárias não param de descer – muito mais se forem vistas à escala da Europa. Por outro, falta a ousadia de pensar que não existem desafios".
(...)
"Actualmente todas [rádios] se parecem imitar umas às outras".

Luís Osório


"A televisão esmaga a rádio, é uma luta desleal".
(...)
"A rádio tem que se ginasticar e reinventar, sempre com imaginação. Tem que haver a capacidade de arriscar, de tropeçar e de não ser politicamente correcto".
(...)
"A rádio tem que tornar os seus possíveis inimigos, como a televisão, em aliados".
(...)
"A rádio não está esgotada".

António Sala


"Agora, mais do que nunca, existe um maior número de rádios especializadas num género musical, existe maior variedade".
(...)
"Com a chegada da Internet, a rádio ganhou imenso"
(...)
"Os e-mails vieram estreitar a comunicação entre os locutores e os ouvintes"

Luís Montez


in: Diário de Notícias
Sexta-feira 22.Junho.2007
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"A rádio de hoje é uma lata de conservas, não existe espaço para o risco"

António Sala

in: Diário de Notícias
Quinta-feira 17 de Maio 2007

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Como no Cinema dedica mais uma emissão à poesia. Rosa do Mundo, a partir de hoje disponível pela primeira vez na Internet.
Destaque para as vozes de Maria Azenha, Mário Máximo e música clássica russa.

Grande parte dos poemas pertence ao livro «Rosa do Mundo – 2001 Poemas para o Futuro», editado pela Assírio & Alvim, no âmbito do Porto – Capital Europeia da cultura.




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quinta-feira, 21 de junho de 2007

A Rádio é crítica "no deserto"







Foi publicado no passado dia 15, no jornal «Margem Sul» (distribuição gratuita), uma reportagem sobre o panorama radiofónico existente na margem sul do Tejo.
O jornalista Luís Bonixe ouviu alguns profissionais e faz uma breve análise histórica sobre as rádios locais da zona em questão.
Apesar de ainda haver rádio local na margem sul, conclui-se que, pelo menos neste aspecto, “o deserto” existe. Mas só na margem sul?

À procura da boa sintonia
A ler aqui (edição 15 de Junho)

sábado, 16 de junho de 2007

Parabéns ao «Swing Club» pelo 26º aniversário (1981-2007) e também ao bogue «Queridos Anos 80» por mais uma festa, a 6ª, em homenagem à música pop de 80 (embora estas festas ainda não tenham saído de casa…).
Para quem puder e quiser, hoje à noite, no sítio do costume com aquelas canções de sempre.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

A segunda parte de “Homens & Mulheres” em «Como no Cinema» já está disponível pela primeira vez na Internet. Destaque para textos e voz de Sarah Adamopoulos e sons dos filmes «Fa yeung nin wa» de Wong Kar Wai e «Blue Velvet» de David Lynch.





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quarta-feira, 13 de junho de 2007

Conflito Cerebral




















Ser ouvinte fiel de Rádio às vezes não é nada fácil. Que o digam todos os que se vêm em palpos de aranha para se decidirem sobre o que ouvir quando as propostas interessantes acontecem à mesma hora, mas em estações diferentes (e concorrentes). Nestes períodos, não se pode falar em crise da rádio.
O que fazer por exemplo nas manhãs/início de tardes de fim-de-semana, em que as rádios apostam fortemente na programação temática de palavra? Comecemos por sábado, das 9 às 10: ouvir «Lugar ao Sul» de Rafael Correia na Antena1, ou «Terra-a-Terra» na TSF? Das 10 às 11: ouvir «1001 Escolhas» de Madalena Balça na Antena1, «Quinta-essência» de João Almeida na Antena2, ou a segunda parte de «Terra-a-Terra» na TSF? Das 11 ao meio-dia: ouvir «Palavra de Honra» na TSF ou «Alma Nostra» de Carlos Magno e Carlos Amaral Dias na Antena1? Do meio-dia às 13: ouvir a «Grande Entrevista» de Maria Flor Pedroso na Antena1, ou «Fala com Ela» de Inês Meneses na Radar? Das 13 às 14: ouvir «Em nome do Ouvinte» do provedor José Nuno Martins e «Cinemax» de Tiago Alves na Antena1, «Área Vip» de Gonçalo Castro na Antena3, ou «Eureka» na TSF? [«Sal & Pimenta» na Renascença acabou para mim com a saída de João Bénard da Costa].
As tardes de sábado são menos “conflituais” mas, ainda assim o que ouvir das 17 às 18? «Ondas Luisianas» [até às 19] de Luís Filipe Barros na Antena1, a «Hora do Bolo» por ouvintes na Radar ou «A Playlist de…» na TSF? Das 18 às 20: «Discos Voadores» de Nuno Galopim na Radar ou «MQ3» de Miguel Quintão na Antena3? Sábado, da meia-noite em frente: ouvir «Fuga da Arte» de Ricardo Saló na Antena2 [até à uma] ou «Quase Famosos» [até às duas] pela dupla de autores Nuno Costa Santos e Pedro Adão e Silva no RCP?
Domingo, no período manhã/tarde regressa o “conflito cerebral”, das 10 às 11 da manhã: ouvir «Grande Reportagem» na TSF; «O Amor É» de Júlio Machado Vaz e Ana Mesquita na Antena1 ou «Um Certo Olhar» de Luís Caetano (com Maria João Seixas, Vicente Jorge Silva e Inês Pedrosa) na Antena2? Das 11 ao meio-dia: «Pedro Rolo Duarte» [à conversa com bloggers] na Antena1 ou «Em Sintonia» com António Cartaxo na Antena2?
Do meio-dia às 13: «Álbum de Família» com Tiago Castro na Radar, «Visão Global» de Ricardo Alexandre na Antena1, «Coreto» de Jorge Costa Pinto na Antena2, ou «Rádio Fazuma» [até às 14] na Antena3?
Das 13 às 14: «Dias Levantados» de Ana Sousa Dias na Antena2 ou «Gente Como Nós» na TSF? Domingo à tarde, das 19 às 20: ouvir (em reposição ou pela única vez para quem não ouviu no sábado) «Fala com Ela» na Radar ou «M» de Mónica Mendes [até às 21] na Antena3?

Domingo à noite, das 22 às 23: ouvir «Discos Voadores» [em reposição até à meia-noite] na Radar, «Argonauta» de Jorge Carnaxide na Antena2 ou «Planeta3» de Raquel Bulha na Antena3? Das 23 à meia-noite: novo horário para o indispensável programa «A Menina Dança?» de José Duarte. É um horário novo, antecipado em uma hora [até há pouco tempo era depois da meia-noite, de sábado para domingo], mas é um horário perigoso. Vai ser muitas vezes “engolido” pelo futebol. Ouvir a segunda hora de «Discos Voadores» na Radar, a segunda edição [a primeira é sábado à mesma hora] de «Um Toque de Jazz» de Manuel Jorge Veloso na Antena2 ou «Bons Rapazes» [até à uma da manhã] de Miguel Quintão e Álvaro Costa na Antena3?

De domingo para segunda-feira é que não há dúvidas nem conflitos: «Íntima Fracção» de Francisco Amaral no RCP (00:00/02:00).

Depois de tudo isto, vem o pior, ou seja, o maior e mais prolongado [cinco dias, de 2ª a 6ª] “conflito cerebral” de um ouvinte compulsivo de rádio: as manhãs. As manhãs são o terreno forte da rádio, o mais poderoso argumento existencial das estações. O segundo é os finais de tarde, embora de uma forma mais diluída. Nas manhãs, as estações de rádio costumam apostar tudo. É aqui que se instala de forma mais decisiva o “conflito cerebral” por parte do ouvinte. Então o que fazer? Ouvir o novo formato claramente informativo do RCP com o pivot (ex-SIC-Notícias) João Adelino Faria em «Minuto a Minuto»? Ouvir o estilo inigualável – desde há quase duas décadas – da TSF, sempre com conteúdos interessantes e informação detalhada, incluindo o clássico e pertinente «Fórum»? Optar pela também muito forte e variada programação de cariz informativo na Antena1, com animação de António Macedo e depois Eduarda Maio no espaço interactivo «Antena Aberta»? Ou as hilariantes prestações de Nuno Markl na Antena3, com animação de José Mariño? Ou as dinâmicas manhãs «Toca a Animar» com Pedro Ribeiro na Rádio Comercial? Ou as conversas, sugestões, informações e música erudita na Antena2? Ou as três horas [7/10] da alternativa Radar com animação da sempre competente e segura Inês Meneses? Ou o mesmo horário na não menos interessante Oxigénio, com animação de Rui Portulêz? Ou as manhãs serenas smooth Jazz e despoluídas da Rádio Marginal? Ou não ouvir nada?

Chega-se, inevitavelmente, a uma conclusão óbvia: é-se obrigado a optar, e nem as soluções do podcast são um remédio sem contra indicações. Uma delas é pensarmos que, aliviando a consciência, podemos ouvir mais tarde quando pudermos, mas nem esse falso antídoto evita a posterior má consciência porque, afinal, não chegámos a ouvir o que nos tínhamos prometido “ouvir depois”. Há público para toda a oferta e para outras que não existem actualmente, mas a concorrência (em alguns casos, pura contra-programação) entre estações geram nos ouvintes alguns destes “conflitos cerebrais”. Fazer zapping de posto para posto equivale a não ouvir nada. Digo muitas vezes a pessoas que me conhecem que há pelo menos duas coisas que faço com grande eficácia de manhã: ou durmo ou… deito-me! Dizem que o sono é bom conselheiro e que um travesseiro adequado e um leito proveitoso evitam a tortura de tanta vozeirada matinal e multiplicidade de opções, para outros tantos gostos. Felizmente está a chegar o verão e as férias para desanuviar. Talvez o melhor mesmo seja dormir sobre o assunto.


P.S: A enumeração de possíveis “conflitos cerebrais” para ouvintes de rádio não se esgotou aqui. Há mais exemplos, mas estes são para mim os mais prementes.

terça-feira, 12 de junho de 2007

Conferência Nacional de Rádios Universitárias















Qual a actua situação das rádios universitárias em Portugal?

Qual a importância destas para o meio onde se inserem?








Estas e outras questões estarão em debate na iniciativa Universidades.fm – Conferência Nacional de Rádios Universitárias, evento realizado no âmbito da Prova de Aptidão Profissional de Marco Ribeiro, aluno finalista do Curso Técnico de Comunicação/Marketing, Relações Públicas e Publicidade da Escola Profissional de Comércio Externo, que terá lugar no próximo dia 15 de Junho, a partir das 14:30h, no Auditório Venepor, em pleno centro da cidade da Maia. Sendo moderada por Daniel Catalão, jornalista da RTP, a conferência terá como público-alvo os alunos e professores das diversas escolas e universidades participantes. Paralelamente à conferência, estará patente no mesmo espaço uma pequena Mostra, com a presença de algumas instituições ligadas ao meio, contando ainda com a importante presença da Fundação da Juventude.

O debate de ideias contará com a presença de um relevante painel de oradores, entre os quais, Isidro Lisboa, animador da Rádio Nova, Francisco José Oliveira, vice-presidente da Associação Portuguesa de Radiodifusão, Luís Mendonça, director da Rádio Universidade Marão e Pedro Alexandre Reis, professor de Comunicação Digital na Universidade Fernando Pessoa. Num debate que se quer o mais interactivo possível com a plateia, pretende-se auscultar a opinião de quem pensa, faz e vive este conceito. E porque a participação de todos conta, torna-se importante salientar a presença de diversas delegações de Rádios Universitárias do país, assim como os representantes das rádios locais e nacionais. Na recta final do evento assistir-se-á ainda à actuação de tunas universitárias, à qual se seguirá um cocktail.

A entrada é livre.
A «Rádio Crítica» agradece publicamente o amável convite para estar presente no debate, mas obrigações profissionais da rádio em directo impedem-me de, na próxima sexta-feira, me deslocar à cidade da Maia.


sexta-feira, 8 de junho de 2007

Homens & Mulheres (1ª parte) em Como no Cinema, já disponível pela primeira vez na Internet.
Destaques para as vozes de Sarah Adamopoulos, Pedro Tamen e Arnaldo Antunes.
Sons do filme «Eraserhead» de David Lynch.








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sexta-feira, 1 de junho de 2007

Rádio Nostalgia

The Beatles – A Day In The Life (01 de Junho 1967 - 2007)



















40 anos

As unanimidades não são consensuais, e a história está cheia de exemplos em que as unanimidades não existem genuinamente. Muito menos unanimidades no que diz directamente respeito à música e, por conseguinte, ao turbilhão de emoções que ela provoca. Mas o álbum da história pop-rock que mais se aproximou dessa unanimidade de consensos foi aquele que agora – hoje mesmo – completa 40 anos de existência. Foi editado no dia 1 de Junho de 1967. Faço parte de uma (imensa) minoria que não concorda com esse tipo de consagração histórica devotado ao lendário álbum «Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band» dos Beatles, embora nem discuta que se trata de uma obra incontornável. Nem a mínima dúvida sobre isso. A minha opinião – preferência – quanto a esse estatuto, reservo-a para o álbum «Pet Sounds» dos Beach Boys. Mas é só a minha opinião, nada mais. Diz-se que “gostos não se discutem”, mas por vezes discutem-se e muito. Muitas dessas vezes, para além do razoável. É um horizonte sempre em aberto e, por natureza indefinido, este dos gostos musicais de cada um de nós. Não consigo perceber como podem existir – e existem! – pessoas que vivem sem música nas suas vidas. Como podem viver assim? É uma coisa que me ultrapassa completamente. Não concebo. Não me cabe no cérebro. Mas não é por esse caminho, talvez um beco sem saída (a não ser a entrada a servir de saída), que vou agora aqui seguir.
Voltemos à música propriamente dita e a este disco quarentão dos Beatles. É preciso, para já, que vejamos as coisas e os acontecimentos à luz do tempo em que tiveram lugar. «Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band» foi de uma vital importância pelos caminhos que abriu, pela influência absolutamente decisiva que teve e ainda continua, embora já muito tenuemente, a ter. Foi uma viragem total na face e na carreira do ainda hoje considerado melhor agrupamento da história da música popular do século XX, mas a viragem iniciou-se um ano antes, com o álbum «Revolver», ao qual Brian Wilson respondeu disparando com o supra citado «Pet Sounds». A história seria hoje um bocado diferente se a estratégia de “contra-ataque” de Wilson seguisse em frente através do álbum «Smile», não fora a Capitol Records (editora dos Beach Boys) abortar a edição entretanto já iniciada e que contou com o beneplácito dos outros membros do grupo californiano, discordantes com o rumo que Brian quis dar aos Beach Boys e coadjuvados pelo extenuante processo de trabalho a que foram sujeitos nas anteriores sessões de estúdio. Só para terem uma pequena ideia, o tema «Good Vibrations» levou seis meses a ser gravado, com repetições de takes ad eternum sob a voz de comando obsessivo de Brian Wilson. Aliás, Brian estava em rivalidade declarada com o produtor Phil Spector e com a dupla Lennon & McCartney. Queria fazer melhor que eles. E quase conseguiu. Infelizmente, Brian estava sozinho no barco e o disco que sucedeu a «Pet Sounds» foi uma sombra desencantada, que deu pelo nome de «Smiley Smile», aproveitando ainda algumas gravações do projecto inicial, mas já sem a presença de Brian. «Smile» foi finalmente finalizado por Brian Wilson e editado em 2004. Mas já não era a mesma coisa. Nem Brian Wilson já era o mesmo [God Only Knows como seria a história se tivesse sido contada como Brain a quis contar]. Outro era o modo, outro era o tempo. Enfim, um pedaço muito negro na vida de Brian que deixou uma ferida aberta no decurso da história musical pop-rock na segunda metade do século passado, mas que abriu o caminho da consagração ainda maior dos fab four que se assinala pela quarta década no dia de hoje. A conceptualidade iniciada com este disco dos Beatles foi elevada a outros patamares no duplo álbum do ano seguinte «The Beatles [White álbum]».
Em «Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band» (gravado entre 6 de Dezembro de 1966 e 1 de Abril de 1967) outra inovação: a faixa escondida. Se puderem, ouçam em disco até ao fim a última canção “A Day In The Life” e esperem uns segundos… aparecerá uma coisa muito estranha e inesperada.



Curiosamente, hoje também se assinala uma outra data importante no mundo da música popular. No dia 1 de Junho de 1974, ao vivo, juntavam-se no mesmo palco para um concerto único, os seguintes nomes: Kevin Ayers, John Cale, Brian Eno, Nico (& The Soporifics); Robert Wyatt e Mike Oldfield. 3.000 almas assistiram a um grande momento histórico no Rainbow Theatre, em Londres. Para a história documental, foi editado meses depois o disco «June 1,1974».












P.S: A história é sábia sobre o pretérito, mas é uma aprendiz na Justiça.
Por falar nisso: sem contar com peças noticiosas alusivas à data do álbum dos Beatles, que estações de rádio em Portugal vão hoje passar esta músicas? 

Estrada Perdida em Como no Cinema. Terceira e última parte já disponível pela primeira vez na Internet.

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Ele (quase) em minha casa















O chavão/frase feita/cliché: “A sala foi grande demais para… ” não serve para descrever aquela noite. Os que lá estiveram, sabiam ao que iam. Não muitos, mas muito conhecedores. E só não foram mais porque a data apareceu praticamente do nada, com promoção a rasar o zero. Poucos, mas bons (aqui já vale cliché!) conheciam de cor letras de um disco que não passa na Rádio (embora passe um ou outro tema, quando deveria passar TODO!) e que ainda só foi editado há pouco mais de quatro meses.
JP Simões (deve-se pronunciar Gê-Pê) não enganou ninguém, Tão pouco desiludiu. Acompanhado pelo Couple Coffee fez soar a sua música e aquelas letras – principalmente aquelas letras – com o conhecimento de saber feito. Os comentários de JP entre cada canção são tão desconcertantes, irónicos e hilariantes quanto indispensáveis. Fazem parte da figura, como nos habituou nas saudosas actuações ao vivo dos Belle Chase Hotel e no efémero Quinteto Tati. «1970» é, até agora, o melhor disco português de 2006… editado em 2007 (Janeiro), beijando na boca o verão brasileiro. A conotação veio a seu tempo na imprensa e subscrevo por inteiro. O álbum, dentro do seu estilo multicultural, é uma obra quase sem mácula. Destaco uma magnífica versão do tema "Inquetação", de José Mário Branco. Mas a letra que mais me atinge, por diversas razões, é a do tema título "1970 (retrato)".
Estejam atentos: ele anda por aí. Há dias foi (quase) na minha casa, amanhã – ou já hoje – pode ser na vossa.
Eis uma das canções de «1970», aqui JP Simões em dueto com a cantora brasileira Luanda Cozetti.

Se por acaso (me vires por aí)




(Ele)
Se por acaso me vires por aí
Disfarça, finge não ver
Diz que não pode ser, diz que morri
Num acidente qualquer
Conta o quanto quiseste fazer
Exalta a tua versão
Depois suspira e diz que esquecer
É a tua profissão

E ouve-se ao fundo uma linda canção
De paz e amor

(Ela)
Se por acaso me vires por aí
Vamos tomar um café
Diz qualquer coisa, telefona, enfim
Eu ainda moro na Sé
Encaixotei uns papeis e não sei
Se hei-de deitar tudo fora
Tenho uma série de cartas para ti
Todas de uma tal de Dora

E ouvem-se ao fundo canções tão banais
De paz e amor

(Ele)
Se eu por acaso te vir por aí
Passo sem sequer te ver
Naturalmente que já te esqueci
E tenho mais que fazer
Quero que saibas que cago no amor
Acho que fui sempre assim
Espero que encontres tudo o que quiseres
E vás para longe de mim

E ouve-se ao fundo uma velha canção
De paz e amor

(Ela)
Na sexta-feira acho que te vi
À frente da Brasileira
Era na certa o teu fato azul
E a pasta em tons de madeira
O Tó talvez queira te conhecer
Nunca falei mal de ti
A vida passa e era bom saber
Que estás em forma e feliz

E ouve-se ao fundo uma triste canção
De paz e amor