sábado, 31 de maio de 2008
Elas em minha casa (… e também na vossa)
Le Mystere Des Voix Bulgares - "Polegnala e Todora" (Canção de Amor)
Na minha casa foi numa recente noite de Sábado, na vossa – e de todos os que quiserem/puderem ir – é já na noite de 9 de Junho, no Centro Cultural de Belém em Lisboa. Antes, actuam no Teatro Virgínia em Torres Novas. Elas andam aí e, volta e meia, regressam. São sempre bem-vindas. Ouvia-as pela primeira vez através da Rádio, inícios de 1987, nesta mesma Canção de Amor do videoclip, no programa «Íntima Fracção» [RDP-Antena1]. Vozes campestres vindas de longe, vindas de leste. Na altura, muito mais que agora, vindas de um país distante. O etno-musicólogo Marcel Cellier descobriu-as em 1975. Peter Murphy deu-as a conhecer a Ivo Watts Russell (patrão da editora 4AD) que as editou em dois célebres volumes (1986 e 1988). A partir daí foi o crescente fenómeno que hoje é conhecido pelo mundo fora, incluindo participações em discos de artistas famosos e menos famosos, como por exemplo Kate Bush ou James Young. Com bastante êxito em Portugal, por cá passaram vários coros das Vozes Búlgaras para um já considerável número de actuações ao vivo – sem amplificação. Que me lembre, para além do concerto de há dias, já as tinha visto nos claustros do Mosteiro dos Jerónimos (em 1994 na Lisboa Capital Europeia da Cultura); na Expo 98, numa actuação conjunta com Amélia Muge e Jorge Palma (esteve prevista a edição de um disco conjunto, mas que até hoje não aconteceu); e em 2004, no mesmo local que refiro no início deste texto. Enfim, é uma relação de afinidade de ouvinte e de apreciador destas vozes oriundas dos campos da Bulgária, tornadas stars por via da expansão do conceito world music que a Rádio tanto ajudou a difundir e que, desde há alguns anos, se recusou a continuar esse difícil mas muito interessante caminho, desperdiçando tudo o que já antes havia traçado. Ouvir o Mistério das Vozes Búlgaras agora na Rádio seria tão maravilhosamente estranho e misterioso quanto ver um Ovni aterrar na Praça do Comércio.
sexta-feira, 30 de maio de 2008
Frank Sinatra
É dele a voz que mais atrás no tempo me lembro de ter ouvido na Rádio… a Voz, não a canção
No passado dia 14 de Maio assinalaram-se os dez anos da morte de Frank Sinatra. Um pouco por todo o mundo em que era conhecido, isto é, na maior parte do planeta, sucederam-se as homenagens e as lembranças da primeira figura artística com dimensão verdadeiramente global. Começou a cantar em público nos anos trinta e obteve um enorme sucesso imediato. Isto num tempo em que a Televisão na América era ainda uma miragem, existia a Rádio (Sinatra foi artista de Rádio) e o Cinema como as duas grandes forças de divulgação artística e cultural. Escusado será dizer que estávamos num tempo que distava seis décadas do aparecimento de meios (que hoje são-nos banais) de difusão em massa e em tempo real, como por exemplo os telemóveis e a Internet.
Frank Sinatra foi o melhor de sempre no seu estilo. Melhor que Bing Crosby, Dean Martin ou Tony Bennette? Sem dúvida! Melhor que Elvis Presley? Não. Sinatra não era um rocker, embora fosse muito melhor actor que Elvis. E Elvis ficou a perder quando se quis tornar num cantor romântico-baladeiro.
Sinatra tem, para mim, uma ligação directa na minha própria relação com a Rádio. É dele a primeira voz (em música cantada) que me lembro de escutar através da radiodifusão em Portugal. Um facto ocorrido em meados da década de 70 do século XX. Muitos anos depois desse dia, nos meu dias da Rádio, Sinatra foi numerosas vezes uma escolha recorrente – enquanto pude (leia-se: antes das playlists) – nas emissões de espaço musical que editei.
Actualmente Sinatra não é um recurso recorrente na Rádio. Só por excepção, não por regra. Nem ele, nem Elvis Presley nem os Beatles. São nomes incontornáveis, mas estão a ser há anos severamente contornados nas escolhas dos playlisters. E é pena, pois trata-se de uma grandessíssima lacuna ou, dito de outra forma, uma vergonha.
Foi também na Rádio que soube da morte de Sinatra, na manhã do dia 14 de Maio de 1998, ouvindo a TSF, pela voz do então animador de serviço Mário Fernando.
Ironia do destino… ou, talvez não: A última canção que Frank Sinatra cantou ao vivo foi “The Best Is Yet To Come”.
As suas últimas palavras antes de morrer: I'm losing it...
Há o Sinatra da Voz, da música e há o Sinatra do Cinema. As duas carreiras não se confundem, mas andaram lado a lado durante meio século. Seguem-se – cronologicamente – alguns desses momentos para ouvir e ver:
The Night & The Day
1943 - “Night And Day”
The House
1945 – “The House I Live”
The City
1949 – «On The Town»
The Look
1955 - «The Man With the Golden Arm»
The Partner
1955 - «Guys and Dolls»
The Girl
1956 - «High Society»
The Friends
1960 - «Ocean's 11»
The Voice
1969 - "My Way"
The Song
1974 - "New York"
The Last
1980 - «The First Deadly Sin»
São só curiosidades, ou só aparentes coincidências [no universo não há coincidências. Apenas casualidades da relação causa-efeito]: O meu padrinho de baptismo nasceu no mesmo dia do mesmo ano que Frank Sinatra e morreu três dias depois dele. Foi a primeira pessoa que me falou de Frank Sinatra (era eu ainda muito criança) e ele gostava muito de o ouvir, embora a sua grande paixão artística fosse a fadista Teresa Tarouca. Nada que ver, portanto… mas as coincidências… Talvez os dois fossem duas almas gémeas, separadas por um imenso oceano de distâncias, unidas no Wiskey, nos olhos azuis, bom- vivantismo e paixão por mulheres bonitas.
Se hoje, na Rádio, pudesse escolher uma canção de Sinatra para partilhar com quem estivesse na minha sintonia, seria “It Was a Very Good Year”.
Stay Tuned, O’ l blue eyes
segunda-feira, 26 de maio de 2008
Rádio Nostalgia
The Buggles – I Am a Camera (1981)
Perdido no mundo analógico, achados no mundo digital
Outra recuperação do tempo do analógico, graças às possibilidades do mundo digital. Andei anos e anos à procura deste single, querendo adquiri-lo em CD. Tive-o em vinil no seu tempo próprio e gastou-se de tanto rodar. É um clássico supremo dos inícios da década de 80, no período mais fértil e estimulante da electro-pop britânica.
A reconversão do mundo analógico para o digital fez perder muita e boa informação pelo caminho. É lenta – e continua insatisfatória – toda a reposição de catálogos mais antigos, e não só no universo pop-rock.
Apenas por mero acaso, numa ou noutra colectânea/compilação dos eighties, é que seria possível resgatar este tema paradigmático do tempo analógico da música electro-pop anglo-saxónica. Depois do inevitável “Video Killed The Radio Star”, “I Am a Camera” é o tema mais representativo dos Buggles.
Esta autêntica proeza de conseguir recuperar uma simples canção com a idade do fim da minha infância, devo-a a um velho parceiro das lides radiofónicas. Pedro Picoto está, tal como eu, numa imensa tentativa de recuperação de algum do tempo perdido. Uma espécie de missão de arqueologia de sons já muito esquecidos e que marcaram gerações, incluindo a nossa. É uma tarefa inglória porque nunca ficará concluída, mas a cada pedaço de som resgatado ao tempo – ultrapassado pelo próprio tempo – ficamos com a sensação de ter descoberto um dos muitos sanct-grael que povoaram a Rádio que ouvíamos. Momentos de vida indissociáveis de cada canção, momentos de vida colados a cada tema musical. A música como o mais poderoso dos signos rememorativos, desenhando um múltiplo mosaico de uma muito breve e sempre precária passagem pela Terra.
Felizmente que Pedro Picoto não está sozinho nesta reminiscente busca sonora. Tarzan Boy, Hugo Pinto, e Pedro Esteves, por exemplo, estão também na senda do resgate dos outrora sons massimus. E todos eles já desenterraram peças douradas.
terça-feira, 6 de maio de 2008
Uma Segunda Juventude
É uma regra de ouro, ou pelo menos deveria ser em quase tudo na vida, nunca confiar cegamente na apreciação alheia. Sejamos nós próprios a avaliar, a ajuizar. Tendo em conta algumas críticas que li sobre «Uma Segunda Juventude», tratava-se de uma porcaria.
Gostei do novo filme de Coppola. Depois de uma paragem de dez anos, «Youth Without Youth». Uma parábola hiperbólica sobre a inexorável acção do tempo. Um drama humano e filosófico recheado de analepses e prolepses. Para um fascinado – e intrigado – como eu sobre as questões do Espaço e do Tempo, fiquei encantado com «Youth Without Youth». O meu Coppola não bem este. Está nas obras-primas finais sobre o horror da alma humana manifestado num cenário de guerra («Apocalypse Now»); está no drama criminoso sócio-familiar («The Godfather» I;II;III); está na relação homem-mulher («One From The Heart») e na derradeira história de Amor secular («Bram Stoker's Dracula »). Depois há os outros, igualmente bons, mas de uma (e luxuosa) segunda linha: «The Conversation»; «The Cotton Club»; «Gardens Of Stone» e «Tucker: The Man And His Dream». A essa segunda linha, se junta agora o novo «Youth Without Youth». Um regresso de Coppola a um registo longe das super-produções, mais pessoal e com menores custos.
Em palavras ao programa «Cinemax» (RDP-Antena1; 13 de Abril), Francis Ford Coppola disse: Achei que este era um filme que eu podia fazer. Ir à Roménia, podia financiá-lo e podia realizá-lo como se fosse um estudante de Cinema com dezoito anos. E apercebi-me que esta minha história é a história do filme. Tornou-se mais pessoal. E é a parte pessoal que as pessoas gostam de ver. O filme não foi feito apenas como um mero trabalho.
O crítico João Lopes no mesmo programa: Em Cinema tudo é possível. Tudo continua a ser possível. E, realmente, olhando para «Uma Segunda Juventude», aquilo com que nos deparamos é com um cineasta que acredita que o Cinema pode, ser por exemplo, psicológico e introspectivo, mas não tem que se submeter às regras dramáticas que de forma mais ou menos académica – muitas vezes televisiva – continuam a sustentar um Cinema no fundo falsamente psicológico. «Uma Segunda Juventude» é um exemplo brilhante de como continua a ser possível fazer um Cinema sobre a alma humana ser estar submetido às regras dominantes da televisão.
Ver trailer: aqui
Na série de programas Cahiers du Cinema em «Questões de Moral» [Antena2], Joel Costa dedicou uma emissão a Francis Ford Coppola (24 de Março). É dessa emissão a seguinte citação utilizando mais uma vez, as próprias palavras do cineasta em 1979, após a estreia de «Apocalypse Now»:
Às vezes penso: porque não me contento em produzir o meu vinho, realizar um filmezito de dois em dois anos, viajar mais vezes à Europa com a patroa e os miúdos? Porque me satisfaço só quando pretendo atingir cumes incríveis e me arrisco a rebentar com a minha vida pessoal só para poder fazer um filme?
segunda-feira, 5 de maio de 2008
Ele (Fernando Correia) em minha casa
Quarta-feira; 30 de Abril: O programa «Lugar Cativo» [Rádio Clube Português] feito em directo da sala de troféus do ginásio-sede do Futebol Clube Barreirense na cidade do Barreiro. Assinalou-se o 97º aniversário do Futebol Clube Barreirense e 88º do Luso FC. O FC Barreirense já não está entre os grandes da primeira divisão desde a época 1977/78, mas nesta emissão especial estiveram presentes velhas e novas glórias do clube, para além de outros convidados especiais, como por exemplo o presidente da Câmara.
O Barreiro sempre foi um viveiro de valores para o futebol nacional. Lá nasceram e/ou cresceram nomes como José Augusto, Manuel Galrinho Bento ou Fernando Chalana.
Ainda nos tempos da TSF, Fernando Correia planeava um dia fazer uma emissão especial a partir do histórico Barreiro do futebol. Acabou por acontecer agora essa oportunidade, numa altura muito importante para a cidade, que vê o histórico Estádio D. Manuel de Mello ser demolido para dar lugar a novas infra-estruturas decisivas para o futuro da cidade, nomeadamente a nova travessia rodoviária com ligação directa a Lisboa, incluindo ligação de TGV e comboios suburbanos. O novo Estádio do FC Barreirense está já projectado e aprovado. Vai ser construído à beira rio, na freguesia da Verderena, no âmbito do Programa Polis, cuja primeira fase foi recentemente inaugurada. Enquanto isso, a actual boa carreira desportiva da equipa sénior do FC Barreirense (está prestes a subir de divisão) vai-se desenvolvendo no esplendor da relva do também já histórico Estádio Alfredo da Silva.
Palavras de Fernando Correia ao site do FCB:
O programa «Bancada Central» começou em Fevereiro de 1996 e acabou em Dezembro de 2006. E foi um êxito de bilheteira. Por mero acaso de escalonamento de serviço, coube-me estar aos comandos da emissão da TSF em ambas as ocasiões. O (mal apelidado) fórum sobre futebol (abordou outras modalidades desportivas) teve vários horários, todos eles nocturnos. Foram quase onze anos de muitas noites em estúdio com Fernando Correia, milhares e milhares de minutos, milhares de chamadas telefónicas, largas centenas de ouvintes, dezenas e dezenas de convidados em estúdio, noites de Rádio sem fim… até ao fim, em Dezembro de 2006, numa noite em época de Natal em que ainda não se sabia que aquela era a última emissão da «Bancada Central». Para os derradeiros minutos, Fernando Correia desafiou-me a escolher um tema musical para encerramento de programa. Uma prática não inédita. Já tinha sido assim por numerosas vezes. Escolhi a versão “So It’s Christmas” [de John Lennon] na voz da cantora brasileira Simone Bettencourt de Oliveira – “Então É Natal”.
O programa interactivo de Fernando Correia recomeçou pouco tempo depois, com formato redefinido, no arranque do novo RCP-Rádio Clube de Portugal no dia 29 de Janeiro de 2007. Depois de alguns ligeiros ajustes, mantém-se firme na programação diária (incluindo ao fim-de-semana) do RCP, com forte contribuição profissional de dois outros jornalistas (também ex-TSF), Artur Teixeira e Fernando António. E Fernando Correia continua ainda – e em grande forma – a fazer relatos de futebol como só ele sabe. Além dos muitos companheiros e jovens talentos, para mim continua a ser o melhor.
«Lugar Cativo»
RCP-Rádio Clube Português
Segunda a Sexta-feira (20:00/21.30)
Sábado / Domingo (19:00/22:00)