quarta-feira, 30 de abril de 2008

(J)arre! até que enfim!













Quantos anos (décadas) os fãs portugueses esperaram por este acontecimento? Finalmente um concerto de Jean Michel Jarre (JMJ) em Portugal. Não sou fã de JMJ; fui admirador e consumidor do duplo álbum «Les Concerts en Chine» (1982) e em tempos – muito idos – passei-o na Rádio. Actualmente não é possível “apanhá-lo” de ouvido através da Rádio. Só uma ou outra entrevista (mesmo que datada), porque a música… nem pensar. Então, recuemos até aos anos oitenta do século passado, período de em que JMJ tinha tempo e espaço no éter nacional. «Les Concerts en Chine» foi mais notícia pelo lado político do que musical. Os concertos que o músico francês realizou na China, nas cidades de Pequim e Xangai durante o mês de Outubro de 1981, foram uma demonstração por parte do regime comunista vigente de uma certa abertura à cultura (e economia) ocidental, no paradigmático binómio “um país, dois sistemas”. JMJ foi o primeiro músico ocidental a poder actuar na China comunista ultra-conservadora depois da Revolução Cultural (1966). Um acontecimento de grande importância, sem dúvida, mas atrelado a uma forte componente política censória que – pasmemo-nos – ainda hoje persiste em múltiplos aspectos naquela República Popular (É preciso realçar que se trata de música instrumental!).
Em 1997, JMJ esteve em Lisboa numa visita promocional a um ou mais dos três discos que editou nesse ano. Foi uma entrevista conjunta com outros órgãos de comunicação social presentes, estilo conferência de imprensa, no Hotel Tivoli. Depois das apresentações alusivas à presença do músico francês e de uma ou outra pergunta meramente editorial e previsível, chegou a minha vez de colocar questões. Perguntei a JMJ se conhecia alguma coisa da música portuguesa e, se sim, qual. Respondeu-me que gostava muito da arquitectura da cidade… da luz de Lisboa… das casas… das janelas… Os acompanhantes de Jarre (promotores da editora e tradutor) começaram a fitar-me de soslaio. Percebi que só teria oportunidade para mais uma e última pergunta. Além disso, não era minha intenção estragar o ambiente para que outros pudessem fazer mais perguntas [curiosamente mais ninguém fez perguntas]. Assim, questionei JMJ sobre a importância dos concertos na China e aí ele esteve bem mais à vontade nas palavras, dizendo o que toda a gente sabe esses concertos: Veja-se o comportamento do público, em curtas imagens criteriosamente autorizadas pelo regime chinês em 1981… as pessoas pareciam que estavam a respirar pela primeira vez na vida!

A vinda de JMJ a Portugal ocorre na celebração dos trinta anos do álbum «Oxygene» (1977), recentemente reeditado com melhoramentos sonoros e acrescentos vários, incluindo imagens. Rodeado por uma série de sintetizadores analógicos e outros três músicos, JMJ (a quatro meses de completar sessenta anos de idade) parecia um miúdo em palco a quem deram o primeiro brinquedo. Saltando, gesticulando, batendo palmas e muito atreito a entusiasmar o público. Pena que não tenha eu sentido o entusiasmo que certamente este concerto merecia, mas para mim, JMJ e este espectáculo de luz, cor e electrónica, chegaram tarde demais. “Escassos” vinte e seis anos antes e teria sido o delírio!
JMJ viria a reter por uma segunda vez a minha atenção, aquando o trágico desastre do Vai-Vem norte-americano Challanger (
28 de Janeiro de 1986).
Estava prevista a intervenção de um dos astronautas em directo num concerto de JMJ em Houston, no 25º aniversário da NASA e no 150º aniversário daquela cidade texana. Ronald McNair, o astronauta, iria tocar um solo de saxofone a partir da nave. “Ron´s Piece” viria a fazer parte do álbum «Rendez-Vouz», editado nesse mesmo ano. Seria o primeiro concerto inter-espacial da história. Um acontecimento que ainda está por concretizar e que nunca mais voltou a ser tentado.
Aqui vemos Jean Michel Jarre numa das cinco actuações na China. As pessoas que estiveram nos concertos de Lisboa e Porto, ao verem estas imagens, vão notar poucas diferenças na parafernália disposta em palco. Apenas alguma da dimensão dos equipamentos, a ausência da bateria electrónica e uma actual maior sofisticação visual no cenário e no jogo de luzes. O (novo) mundo (velho) analógico tem pouco para diferençar. É talvez, mais ou menos consensual, concluir-se que o melhor período artístico de JMJ se situe entre «Oxygene» (1977) e «Les Concerts en Chine» (1981).
Pelo menos para mim, o resto é para esquecer.
Mundo (ana)lógico
Alguma da parafernália analógica dos anos 70 apresentada e explicada por JMJ. A mesma “tralha” trazida para os recentes concertos de Lisboa e Porto. Instrumentos (?) modelares de aparelhos/sintetizadores – nos dias de hoje, autênticas relíquias – que estão para a música electrónica como a Fender Strato Caster e a Gibbson estão para o Rock ou o Stradivarius para a música erudita.

Da família Jarre, prefiro a música do pai Maurice Jarre, especialmente nas bandas-sonoras originais que compôs para os últimos quatro filmes de Sir David Lean: «Laurence Of Arábia» (1962); «Doctor Zhivago» (1965); «Ryan’s Daughter» (1970) e «A Passage To India» (1984).

Ele em minha casa



Uma Noite Passada
O grande palco começou a ser montado durante o dia de quarta-feira. Na tarde de quinta-feira foi a instalação dos equipamentos sonoro e luminoso. Sob o calor de uma tarde de verão antecipado, decorrem os testes de som, a afinação dos instrumentos e dos tons vocais. Sérgio Godinho de óculos escuros, alinhava as palavras de “Dias úteis” e outras canções que iriam fazer parte do alinhamento daí a umas horas: “…vou ao fundo do mar no peito de uma mulher bonita…”. Pela primeira vez este ano, sinto o ar quente e doce na boca. E a noite, não se ficaria atrás.
Enquanto SG segue, com a sua comitiva, em direcção ao jantar no «Verde Minho», passa na rádio uma entrevista ao músico francês Jean Michel Jarre que, nos dias seguintes, iria estar ao vivo pela primeira vez em Portugal para concertos, nos Coliseus de Lisboa e Porto. Até aqui tudo bem. Acontece que a entrevista estava datada. Era uma repetição e por nenhuma vez os ouvintes foram avisados disso. E, assim, ouviram-se palavras há muito ultrapassadas pelo tempo, como por exemplo, Jean Michel Jarre referir que gosta muito da ficção de Arthur C. Clark e que já não o via há algum tempo (Arthur C. Clarke morreu no passado dia 19 de Março!) ou ainda a referência à ausência de concertos de JMJ em Portugal (ora, os concertos de Lisboa e Porto estavam anunciados e confirmados há meses!). É um clássico exemplo da tal falta de respeito pelos ouvintes (que não são estúpidos) e que muitas vezes se fala por aí… com toda a razão. A entrevista – esta entrevista – a Jean Michel Jarre tinha sido emitida pela primeira vez há meses, antes da morte de Arthur C. Clarke e antes do anúncio dos concertos de JMJ em Portugal. Este caso tinha duas soluções possíveis e óbvias: ou se assumia claramente que se tratava de uma repetição integral – referindo a data original de emissão, ou se eliminavam as frases datadas. Eu optaria pela primeira das soluções. Nem um nem outro procedimento foram executados. O pior é que, quase uma semana depois, no mesmo sítio e à mesma hora, voltou a acontecer o mesmo: desta vez, uma entrevista ao músico português Miguel Azguime, datada de 2003 com referências temporais a esse ano como se fosse hoje. Lamentável.
Voltando à festa: 24 de Abril, às 22:00; SG já sob o efeito dos holofotes dirigiu-se – pela primeira de muitas vezes – à multidão, dizendo que a noite “está fantástica”. E estava mesmo. Grande enchente, no mesmo local onde nesta mesma noite de celebração da Liberdade em Portugal – e em anos anteriores – estiveram Rui Veloso, Ala dos Namorados, Lenine (2000) e Jorge Palma (2006). No ano passado, o frio fora de época e as “águas mil” afastaram o público da festa preparada por Pedro Abrunhosa & Bandemónio.
Oito em palco, incluindo SG e o director musical Nuno Rafael, o rapaz da camisola azul.
Do alinhamento, ao qual «Às Vezes o Amor» não fugiu, faltou (aliás, falta sempre) a minha preferida de SG: “A Noite Passada”. Não foi por isso que a noite foi mal passada. Logo depois, um salto ali ao concelho do lado, nas margens da baía. A festa continuava na noite quente.

Ela (e eles) ali ao lado



Uma canção passou no rádio
E quando o seu sentido
Se parecia apagar
Nos ponteiros do relógio
Encontrou num sexto andar
Alguém que julgou
Que era para si
Em particular
Que a canção estava a falar

E quando a canção morreu
Na frágil onda do ar
Ninguém soube que ela deu
O que ninguém
Estava lá para dar

Um sopro um calafrio
Raio de sol num refrão
Um nexo enchendo o vazio
Tudo isso veio
Numa simples canção

Depois de os Clã terem tocado “Sexto-Andar”, Manuela Azevedo dirige-se ao público. Fá-lo-ia por numerosas vezes, mas nesta intervenção em particular (a mais longa), soltou palavras directas ao coração. Acertadas em cheio como uma flecha no “Sopro do Coração”: “Há trinta e quatro anos, esta noite começou com uma canção que passou na rádio. Esta canção que acabaram de ouvir, fala sobre a importância de uma simples canção… da importância que uma pequena canção pode ter nas vidas das pessoas. Diz-se que é uma coisinha assim sem importância, apenas três minutos e algumas palavras. Mas a verdade é que há gente que se casa por causa de uma canção, há gente que se separa por causa de uma canção, há gente que vive e morre por causa de uma canção”. E é verdade. De facto, uma pequena e simples canção pode alterar e muito o percurso de uma vida. As palavras de uma canção podem resolver o “Problema de Expressão” (…) “Só para dizer que te amo”.
Lamentavelmente foi não ter sido possível chegar a tempo para assistir à apresentação do espectáculo por Cândido Mota (para mim, o melhor e mais versátil profissional de Rádio português ainda vivo). A última vez que tive esse gosto foi há três anos, antes da actuação de Paulo de Carvalho.
Terceiro e inesperado encore, com Manuela a dizer: “Nós vamos tocar outra, só que ainda não sei qual é…” E foi “Sangue Frio”, a canção do gelo quente. Há oito anos, quando apareceu, identificava-me com grande parte da letra da canção. Hoje não. Sinto maior identificação com o boneco do vídeo de “Sexto Andar”. O homem estendido na cama do seu quarto num sexto andar de um prédio de habitação, a ouvir rádio à cabeceira, e a voar ganhando asas.

Há uma interessante versão ao vivo semi-privada (só para cinquenta fãs) num ensaio registado em Agosto de 2007. Ver aqui

Antes de todas estas canções, tinha descido sobre a lindíssima baía do Seixal aquele que é descrito por muitos como sendo o melhor Fogo de Artifício de toda a margem sul. E quem é capaz de dizer o contrário?
Em todo o espectáculo dos Clã esperei uma surpresa – a suprema surpresa – de ver subir ao palco, perto do final, o próprio Sérgio Godinho para um daqueles incríveis momentos em dueto com Manuela Azevedo. Afinal, ele tinha terminado a sua actuação pouco antes ali ao lado, na cidade que vai receber a nova ponte sobre o Tejo. Estavam muito perto um do outro. Será que ninguém se lembrou de fazer acontecer essa proeza?

Afinidades
Sérgio Godinho e os Clã são presenças habituais e seguras nas rádios portuguesas. SG desde o fim da censura em 1974, os Clã desde que apareceram em 1995. Ambos estão inseridos em playlists, o que tem um lado bom e um lado mau. O lado bom é apenas e só lá poderem estar. O lado mau é que nesse tipo de opção de difusão, muitas das outras grandes canções que assinam nunca são escutadas pelo público. Insiste-se e repetem-se um ou dois singles dos mais recentes trabalhos e pouco ou nada mais para além disso. E isso é muito pouco. Desfavorece não só os ouvintes – que ficam a saber pouco (na verdade quase nada) sobre o álbum, e desfavorece os artistas – que têm mais canções merecedoras de atenção.

A Miss está de volta













A proposta é a mesma: quadros largos e profundos, esculturas com expressão e detalhe. Filmes mudos e musicais. Uma banda sonora quotidiana para uma vida real, surreal ou impossível. Um movimento orquestrado. Na noite, de dia. Ao entardecer.

Hugo Pinto e o podcast «Miss Tapes». Não é preciso muito mais. A Primavera está salva e o Verão que aí vem, garantido.
Notícia boas da “rádio” que não a é. A «Íntima Fracção» também regressou este mês.
Nº 57 em frente (Miss Tapes #56 data do início de Janeiro deste ano).

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Língua















Gosto de sentir a minha língua roçar
a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar
A criar confusões de prosádia
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior
E deixa os portugais morrerem à míngua
“Minha pátria é minha língua”
Fala Mangueira!
Fala!


Em (des)acordo
O maior problema da Língua Portuguesa não está na maneira como é escrita, quer seja em Portugal, quer seja nos países que a falam. Nos media portugueses – e não só nos media – a Língua Portuguesa está fortemente ameaçada. Quer seja através da incorporação acrítica de estrangeirismos (principalmente termos em Inglês, depois das “invasões” francesas), as adaptações e adopções brasileiras e africanas, quer através de uma novel grafia potencializada pela escrita de mensagens de telemóveis. Já bastam os novos hábitos (maus hábitos) trazidos pelos novos mundos tecnológicos, da informática, da Internet e pelos canais de TV internacionais difundidos via satélite e por cabo.
A linguística não é uma ciência exacta, nem a matemática (a partir de uma fase muitíssimo avançada torna-se subjectiva). Quanto às mecânicas e dinâmicas linguistas não restam dúvidas: é um organismo vivo, em permanentemente mutação. Mas o processo evolutivo pode e deve ser monitorizado atentamente.
Convém, portanto, preservar a Língua. Com laivos de conservadorismo sim, mas um conservadorismo positivo, no melhor sentido, que é o de proteger um património imaterial. Conservar aqui não é sinónimo de procrastinar.
As regras ortográficas, à semelhança das regras de qualquer jogo honesto (há jogos inteiramente honestos?), têm que ser absolutamente claras e inequívocas. A facultatividade é contrária à normalização.
Querer escrever da mesma forma em países que falam diferente é tão idiota como querer que esses países todos falem da mesma maneira. Isso é um objectivo fleumático.
A Língua Portuguesa não é propriedade de nenhum povo, nem de nenhuma nacionalidade. Ao Brasil o que é do Brasil, a Portugal o que é de Portugal; a Angola o que é de Angola (e Timor; Guiné-Bissau; São Tomé e Príncipe; Moçambique; Cabo Verde e – ainda - Macau).
Ao contrário do que se diz por aí, a diversidade da Língua Portuguesa espalhada pelo mundo é o que lhe dá maior riqueza. Uniformizá-la é vesti-la de truísmos.
Um acordo ortográfico só iria (ou irá) ter o “mérito” de a descaracterizar irremediavelmente. Em concreto, disseminar uma espécie de caos pseudo-normativo completamente artificial e iníquo.
As mentalidades dos povos não se modificam por decreto inscrito, com a força de letra morta numa assinatura concordante. Não há acordo (por enquanto?) e ainda bem.
O Acordo Ortográfico é, no fundo, uma questão política e, naturalmente, é a Lei que deve suceder a Tradição e não a Tradição que sucede a Lei.

Falta informação
Nos meios de Comunicação social nacionais, escasseiam os espaços que tratam das questões da Língua Portuguesa. Actualmente encontramos apontamentos esparsos, como por exemplo «Assim se fala bom português» nas manhãs da RTP1. Há pouco tempo houve uma série semanal (sextas feiras à noite na RTP1) de programas com apresentação de Nuno Infante, mas desapareceu do ar e teve vida curta. Longe vão os tempos dos programas de Edite Estrela na televisão pública, dedicados inteiramente à Língua Portuguesa, ou dos apontamentos incluídos no telejornal cultural «Acontece».
Na Rádio de serviço público existe um bom espaço dedicado a estas questões, o programa «Páginas de Português», na Antena2.

«Páginas de Português», Domingos às 17h00Um programa de José Mário Costa e José Mário Matias
Uma parceria RDP / Universidade Autónoma de Lisboa
O bem falar e o bem pensar a língua portuguesa, nomeadamente ao uso que fazemos dela


Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas
Vamos no velô da dicção choo choo de
Cármen Miranda
E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate
E – xeque-mate – explique-nos Luanda
Ouçamos com atenção os deles e os delas na TV Globo
Sejamos o lobo do lobo do homem
Adoro nomes
Nomes em Ã
De coisas como Rã e ímã
Nomes de nomes com Maria da Fé, Scarlet Moon,
Chevalier
Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé,
Arrigo Barnabé, Arrigo Barnabé, Arrigo Barnabé
Flor do Lácio Sambódromo
Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode
Esta língua?














Se você tem uma ideia incrível
É melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível
Filosofar em alemão
Blitz quer dizer corisco
Hollywood quer dizer Azevedo
E o Reconcâvo, e o Reconcâvo, e o Recôncavo
Meu Medo!
A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria: tenho mátria
Eu quero frátia
Poesia concreta e prosa caótica
Ótica futura
Tá craude brô você e tu lhe amo
Qué queu te faço, nego?
Bate ligeiro
Samba-rap, chic-left com banana
Será que ele está no Pão-de-Açúcar
Nós canto-falamos como quem inveja negros
Que sofrem horrores no Gueto do Harlem
Livros, discos, vídeos à mancheia
E deixa que digam, que pensem, que falem.

Caetano Veloso & Elza Soares – “Língua”
In: «Velô» (1984)

quarta-feira, 16 de abril de 2008



RJC-Rádio Jornal do Centro / TSF-Coimbra

Neste dia Mundial da Voz, recupero aqui algumas imagens de vozes disponibilizadas em arquivo na Internet – lamentavelmente sem as ouvirmos, excepto as do jingle promocional [Né Ladeiras e Francisco Amaral] apanhadas por mero acaso na clickagem de link em link. Imagens de um tempo muito diferente dos dias de hoje. Demasiadamente diferente. A rádio ainda a funcionar sob a tecnologia analógica, mas de uma criatividade e vivacidade que dificilmente se encontram hoje em Portugal. Anos primordiais da RJC-Rádio Jornal do Centro [depois TSF-Coimbra] nos anos 1989/90.
Nas imagens reconheço Francisco Amaral e Isabel Simões, entre muitos outros.
Os estúdios que aqui vemos desapareceram, foram demolidos. A RJC/TSF-Coimbra ainda teve tempo de vida numas outras instalações, também já pertencentes à memória. As emissões próprias da TSF em Coimbra acabaram em 1993 e a TSF-Coimbra foi vendida em 1995.



RNA-Rádio Nova Antena

A RNA-Rádio Nova Antena é das estações (ex-pirata) mais antigas em Portugal. Começou a emitir em 1985. Reconheço neste vídeo comemorativo do 22º aniversário (incluindo muitas imagens de arquivo) alguns ex-colegas daquela estação, companheiros na construção de um pedaço de estrada na vida e na Rádio: Pedro Miguel Costa, Vera Nogueira, Sandra Gomes, António Mota, Carlos Severino, Susana Gomes, João Carvalho, Joaquim Maralhas, Paula Amaral, Charles Costa, Luís António, Manuel Vieira, etc. Também não temos o som de todas as vozes que aqui aparecem, mas ficam as imagens e muitas memórias.

Eu próprio – que desconhecia a existência destas imagens – apareço algures a fazer emissão, ou seja, no meu habitat natural (foi há quase quinze anos; apenas as pessoas que me conhecem pessoalmente poderão reconhecer-me).

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O que eles dizem (41)

"A palavra é tempo, o silêncio é eternidade"
Maurice Maeterlinck

"Eterno é tudo aquilo que dura uma fracção de segundo, mas com tamanha intensidade que se petrifica"
Carlos Drummond de Andrade



Weekend (live)

Haverá ainda quem se lembre de um grupo do País de Gales chamado Young Marble Giants? Um grupo que apenas editou um disco chamado «Colossal Youth»?
E dos Weekend? E de Devine & Statton? Alguém se lembra? Sim, são mais contributos para a memória da infinita lista de songs they never played on the rádio. É a voz de Alison Statton que atravessa todos estes projectos (extintos) e nomes. Reminiscências da primeira metade da década de 80, em mais um capítulo de «Linhas Cruzadas» no programa «lado B» nº 172. Canções que não passam na Rádio, excepto as que emitem o programa de Pedro Esteves.
Ouvir aqui

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O que eles dizem (40)

"Sem liberdade de expressão o bom gosto não tem qualquer significado."
Neil Young

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Hora ípsilon











Leia no Ípsilon, ouça na Oxigénio

É uma parceria da rádio Oxigénio com um suplemento semanal do jornal diário «Público». E é uma parceria feliz. As parcerias de publicações da imprensa com a Rádio costumam resultar. Nos últimos 25 anos, houve algumas de grande eficácia que deixaram marcas na história da rádio em Portugal. Lembro-me de, por exemplo, o espaço «7 por 7» na Rádio Comercial, uma parceria com o semanário de espectáculos «Se7e», apresentado por António Macedo e João Gobern nas tardes de sábado. Outro exemplo ainda nos anos 80 é o «Espaço Êxito», na Rádio Cidade – na altura (1986/87) ainda pirata - de segunda a sexta-feira (12:00/13:00) com apresentação de José Maria Lameiras. Ou ainda o «Círculo em FM», na Rádio Comercial, em parceria com o Círculo de Leitores que, entre outros, teve apresentação de José Ramos.
Já na primeira metade desta década, este tipo de sinergia escrita/radiofónica também me passou (profissionalmente) pelas mãos na TSF, na «Hora DN Mais». Sessenta minutos de segunda a sexta-feira à tarde. Nessa hora, os animadores da TSF apresentavam à sua maneira (e esse era um pormenor fundamental para a lógica de comunicação) os conteúdos em destaque nessa semana, que eram fornecidos pelo editor do «DN Mais». O suplemento era publicado com o DN ao Sábado.
Há cerca de dois anos retomou-se – com substanciais diferenças – uma iniciativa do género, através da parceria com a revista «6ª» do «Diário de Notícias», no espaço (também de uma hora) designado de «6ª à 5ª». O nome derivava do facto de a revista ser editada à sexta-feira e ser apresentada na rádio na véspera. Uma das substanciais diferenças em relação à «Hora DN Mais» era a diversidade de temas abordados que, para além da música, incluía outras áreas da cultura como a literatura e o cinema. Outra das diferenças estava na forma de apresentação, feita pelo editor da revista – Nuno Galopim – e quase sempre em directo. Esta parceria/sinergia durou pouco tempo, tendo como causa a cessação de edição da «6ª» depois da entrada de uma nova direcção no «Diário de Notícias».
A «Hora ípsilon» na Oxigénio acontece na última hora do painel (07:00/10:00) apresentado por Rui Portulêz (ex-RUC; XFM; Mix FM). Portulêz apresenta em saudável tom de informalidade os destaques da edição do suplemento publicado nesse dia, recebe e conversa com convidados em estúdio (em directo) e conta ainda com a presença de jornalistas que assinam alguns dos trabalhos publicados. Nesta sexta-feira, o destaque foi para o novo disco de Camané. O próprio fadista esteve presente na conversa, ao lado do jornalista João Bonifácio que o entrevistou no «ípsilon». A moderação da «Hora ípsilon» está a cargo do animador de serviço nas manhãs da Oxigénio, Rui Portulêz.

«Hora ípsilon» na Oxigénio, Sextas-feiras das 09:00 às 10:00

terça-feira, 8 de abril de 2008

Íntima Fracção 24 anos










Após uma pausa de quatro meses, a «Íntima Fracção» está de regresso, neste dia do seu 24º aniversário. Um dos programas mais importantes da rádio portuguesa retorna na Internet com nova morada, agora disponibilizada semanalmente pelo Expresso on-line. Depois de ter estado na Antena1, TSF, RUC e RCP, a «Íntima Fracção» continua o seu percurso na WEB (iniciado em 2003), em formato podcast.

A nova morada da «Íntima Fracção»: Emissão/Blogue/Arquivo mp3












É uma nova etapa na já longa vida de um programa iniciado na Rádio. Extensa e prolongada vida são os meus votos e desejos para a «Íntima Fracção», da qual sou ouvinte fiel desde Janeiro de 1987.
Parabéns ao autor de sempre Francisco Amaral.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

updates gerais

Depois dum curto hiato na actualização deste blogue, alguns dados e acontecimentos das últimas semanas (que me desculpem os habituais leitores/ouvintes, irmãos de éter, passantes ocasionais, pessoas interessantes e interessadas, mas nestes dias o apelo marítimo foi mais forte):

HOT night in the CLUBE
19 de Março
2008 (21:00/00:00) Antena2

Os sessenta anos do «Hot Clube de Portugal» foram brilhantemente assinalados na rádio, através de uma emissão especial na Antena2, em directo do Cinema São Jorge em Lisboa. É por estas e por outras (muitas) razões que sou um acérrimo defensor do Serviço Público de Radiodifusão. Sem ele, a cerimónia e o espectáculo não teriam sido transmitidos por nenhuma outra estação de Rádio.
A Big Band do Hot Clube de Portugal com Maria João e Mário Laginha realizaram um concerto especial no palco do Cinema São Jorge. Dois inegáveis talentos de Jazz nacional, tocaram e cantaram, entre muitos outros temas, “Beatriz”.



Depois, só para os presentes, seguiu-se uma Jam-session no Foyer do Cinema São Jorge e, aqui, acho que esse acontecimento também deveria ter sido transmitido. Seria uma oportunidade excelente para fazer reportagem em directo, num registo mais informal e descontraído, falando com os músicos, assistentes, convidados, recolher mais e outras impressões, opiniões, etc.

E, inevitabilidade das inevitabilidades, lá voltaram os assaltos da memória da Rádio, o Jazz e eu. Na primeira metade da década de noventa realizei um programa de Jazz na RSS. «Postal Jazz» trazia companhia: um músico e um melómano/consumidor compulsivo de Jazz. «Postal Jazz» era para ser apenas um apontamento/crónica semanal sobre novas edições de Jazz, mas depressa evoluiu para a dimensão de programa e foi assim que viveu durante quase um ano, tendo acabado com a extinção da estação onde era emitido. Apenas duas emissões foram realizadas em directo: uma em que os convidados residentes estiveram ausentes e a derradeira. Ambas em estúdio. De resto, toda a série foi previamente gravada, quase sempre na cave do «Café Lisboa Bar», onde se realizavam jam-sessions e outras actuações jazzísticas. As gravações decorriam antes da cave abrir. Tinham lugar uma ou duas horas antes do espaço ser aberto ao público, pelo que estava reservado para nós. Nesta aventura comigo estiveram sempre desde a primeira à última emissão os convidados residentes José Carlos Dias (músico/guitarrista/compositor e mentor dos projectos Les Élephants Terribles e Banguru); Ricardo Pontão (melómano/consumidor compulsivo/apreciador de Jazz) e o técnico/sonoplasta de rádio Jorge Ferreira. Bonny foi sempre o nosso anfitrião no «Café Lisboa Bar». A ele devemos a cedência do espaço, a música ambiente e a saudável permuta com a rádio e o programa. Há poucos dias passei à porta do «Café Lisboa Bar». Portas e janelas fechadas, aspecto de abandono. Nem um papel ou qualquer aviso. O expositor do cardápio e da ementa vandalizado e com o vidro partido. O outrora luminoso «Café Lisboa Bar» era já coisa do passado. Mais um espaço devoluto na grande capital do vazio nacional.
«Postal Jazz» teve outra excepção ao longo do seu tempo de vida, que foi a transmissão integral (em diferido, com mais de duas horas de duração) da iniciativa «Jazz em Letras» que teve lugar na Faculdade de Letras de Lisboa. Uma iniciativa co-organizada por José Carlos Dias, em parceria com a Associação de Estudantes e a RSS. Foi uma noite M-E-M-O-R-Á-V-E-L, talvez um dos melhores momentos que tive oportunidade de realizar na rádio. Nessa noite estiveram em palco alguns nomes que viriam a vingar no Jazz nacional, nomeadamente Alexandre Frazão e o pianista (na altura muito jovem, ainda adolescente) Filipe Melo, que recentemente enveredou por uma carreira paralela como realizador de filmes de terror (!).
O nome «Postal Jazz» ocorreu-me depois de ter visto a capa de um disco (edição pirata) ao vivo de Tom Waits com o nome «A Postcard of Jazz». Não o adquiri e, se bem me lembro, vi-o numa das antigas Feira-Mix no Mercado da Ribeira em Lisboa ou numa das feiras do Disco Usado.
Até agora, a última relação que tive com o Jazz na Rádio foi na TSF, num período que durou exactamente doze meses (Setembro 2002 – Setembro 2003), em que se apostou exclusivamente no Jazz e no Blues (géneros musicai congéneres) nas madrugadas (02:00/06:00). Por esses dias de Setembro de 2003, também foi extinta a crónica diária «Jazz Avenue» de António Curvelo.
A TSF teve na sua história de vinte anos (nos primeiros dezasseis) uma forte ligação ao Jazz: «Quem Tem Medo de Charlie Parker?» e «TSF-Blues» (de António Curvelo) e «O Jazz é Como As Bananas» de Rui Neves e Raul Vaz Bernardo são exemplos marcantes. Desde então (Setembro de 2003) que o Jazz nunca mais voltou a ter espaço regular na Rádio Notícias.
Actualmente, é o serviço público de radiodifusão que oferece os melhores conteúdos de Jazz da rádio portuguesa: «Um Toque de Jazz» de Manuel Jorge Veloso (Antena2) ; «Jazz Com Brancas» de José Duarte; «Cinco Minutos Jazz» e «A Menina Dança?» do mesmo autor/realizador (Antena1).
Existem espaços dedicados ao Jazz em outras estações, como por exemplo nas rádios Europa-Lisboa e Marginal, esta última com um perfil smooth-Jazz perfeitamente definido. Mas a nível nacional, é na RDP-Antena1 e Antena2 que o Jazz está melhor representado e defendido.
Ao longo dessa semana em que se assinalaram os sessenta anos do Hot Clube, o programa «Banda-Sonora» de Nuno Infante do Carmo no RCP foi inteiramente dedicado à efeméride (de segunda a sexta-feira; 23:00/00:00), recebendo convidados e emitindo muito e bom Jazz.

Iraque, 20 de Março de 2003
A rádio não deixou de assinalar os cinco anos do início da invasão do Iraque. Há cinco anos estava a realizar uma das madrugadas de Jazz & Blues que anteriormente referi. A todo o momento a emissão iria transforma-se por completo. A redacção já estava preparada desde a véspera para a iminência do ataque militar. Por volta das duas horas e quarenta minutos começam a soar as sirenes de Bagdad. Interrompe-se a difusão de música e entra em cena uma emissão especial contínua que durou dias a fio. É isto a Rádio em directo e ainda bem que é assim.

David Lean

Março 1908















Vem também da última semana de Março a celebração do centésimo aniversário do nascimento de David Lean. A data não teve honras radiofónicas, até porque o Cinema vive dias de amargura na Rádio, com uma grande e boa excepção, através do programa «Cinemax» na Antena1. «Cinemax» é a herança dos grandes magazines de Cinema que a TSF teve durante anos a fio, até os seus protagonistas terem-se transferido para a RDP e onde dão continuidade a esse trabalho. Tiago Alves, João Lopes e Lara Marques Pereira, coadjuvados por outros profissionais da casa. Aliás, foi João Lopes o único (que eu soubesse) a assinalar os 100 anos de David Lean através de um curto texto no blogue «Sound & Vision».
Lean é desde há muito tempo uma inspiração para mim e para alguns trabalhos que pude realizar na Rádio. Pelo perfeccionismo, pela narrativa clássica, pelo aprumo estilístico, bom gosto musical presente nas bandas sonoras dos seus filmes mais representativos e pelo apuro no mais ínfimo detalhe (God is on detail). Os micro-dramas pessoais em macro-cenários históricos da humanidade tornaram-se na marca d’água de David Lean nos épicos que realizou, nomeadamente as suas últimas cinco longas-metragens. Fica a imagem de um exemplo da magnífica conjugação da natureza e do tempo real com o tempo psicológico. Uma belíssima cena ao som de uma das sinfonias de Beethoven. A imagem e som pertencem à grandiosa obra «Ryan’s Daughter» (1970), filmada em Super-Panavision 70, um formato que já não se utiliza e é pena, pois a qualidade fotográfica desta técnica cinematográfica é insuperável.


Portishead

I don't want to hurt you
For no reason have I but fear
And I ain't guilty of the crimes you accuse me of
But I'm guilty of fear

It could be sweet
Like a long forgotten dream
And we don't need them to cast the fate we have
Love don't always shine thru

Fui um dos primeiros em Portugal a divulgar na Rádio a música dos Portishead. Estávamos em Outubro de 1994 e a viver os primeiros tempos do estilo Trip-Hop, cujo epicentro estava na cidade inglesa de Bristol.
“It Could Be Sweet” foi o tema em que mais insisti ao início, apesar de logo a seguir os temas “Glory Box”, “Numb”, “Roads” e “Sour Times” começarem a ganhar vida própria através da exposição ampla e justa que tiveram, para além da TSF, na XFM. Aliás, a partir de certa altura, a questão mais difícil era mesmo qual tema escolher. Todo o álbum estreia «Dummy», dos Portishead, oferece grande unicidade. Agora os Portishead regressaram com um novo disco («Third») e uma digressão que começou em Portugal com dois concertos nas cidades do Porto e Lisboa (26 e 27 de Março respectivamente). A primeira vez que tinham actuado em Portugal foi no encerramento do Festival Sudoeste em 1998. Esse concerto foi transmitido em directo na Antena3 e foi o "concerto da vida" para muitos dos que a ele assistiram. “Machine Gun” é uma dos novos temas e, ao que tudo indica, neste caso os Portishead não perderam nada com a passagem do tempo. Nem as qualidades vocais de Beth Gibbons. “Machine Gun” já se ouve nas rádios, ou melhor, ouve-se na RADAR.
Lembro-me perfeitamente da última vez em que passei Beth Gibbons na Rádio. Foi na noite de Natal de 2002, aquando do final de uma emissão especial de «Como no Cinema». Ela, e antes, Robert Wyatt. Dois cidadãos de Bristol. Ele com o tema “Memories Of You”, e ela (com Rustin Man; álbum «Out Of Season») na canção “Mysteries”. Outros eram os tempos, outra era a Rádio.


PortisheadMachine Gun (2008)

Pedro Malaquias

Um outro olhar informativo nas manhãs da Antena2

Oiçam-no nas manhãs da Antena2 às 07:30; 08:30 e 09:30. Uma pessoalíssima espécie de Revista de Imprensa através de um outro olhar, o olhar do jornalista Pedro Malaquias. Malaquias, desde sempre na Rádio que nos habituou a um estilo muito próprio. Distingue-se pela inovação, pela renovação da linguagem e da língua. Um certo travo irónico e cómico fazem parte do estilo de Malaquias. Foi assim na extinta NRJ-Rádio Energia desde a sua fundação (1991) até ao seu regresso à redacção da TSF em 1995, da qual saiu em 2004. Seguiu-se um hiato radiofónico e ei-lo de novo no éter nacional desde finais do ano passado, na rádio (clássica) pública. É bom, mas é pouco. É pouco porque o imenso talento de Malaquias dá para muito mais no mundo da Rádio. Não sei se é por falta de oportunidades, se é por opção, ou se por ambas as razões ou até por nenhuma delas, mas é um facto: o talento deste homem da rádio está (continua) subaproveitado. Pedro Malaquias é, desde que o comecei a ouvir na TSF, antes da sua transição para a rádio jovem, um dos meus heróis da Rádio. Não hesitei em contar com ele para o elenco de convidados para várias emissões da série de programas «Como no Cinema» na TSF. E muito mais teríamos feito em conjunto se tivesse havido oportunidade para isso.
Há semanas, Malaquias voltou à TSF por uma hora como convidado no magazine diário «Mais Cedo ou Mais Tarde», na qualidade de escritor de canções. É apenas uma das suas expressões artísticas. No fundo, é aquilo que Pedro realmente é: um artista, um homem da Arte e da Cultura. Lembram-se do magazine de Teatro que ele realizou durante anos na TSF?

Os meus “ex”
Voo rasante pelo espectro nacional, de ponta a ponta, no FM. E o que encontro? Antigos colegas da Rádio, os meus “ex”, como carinhosamente lhes chamo. Para além de Pedro Malaquias, muitos outros camaradas de ofício e companheiros desta estrada radiofónica. E são tantos… ainda na Antena2, Paulo Alves Guerra. Tantas foram as horas partilhadas em estúdio no «À Noite», na elaboração de peças informativas relativas a música e participação em emissões especiais (Noite dos Óscares, por exemplo), para além das jornadas informativas diurnas até à sua saída para as manhãs na Antena2 «Império dos Sentidos» (segunda a sexta-feira/07:00-10:00); Na Antena1: encontro a conduzir a emissão, das cinco às sete da manhã, Bruno Gonçalves Pereira, do qual fui correspondente a partir de Lisboa no seu programa semanal (sábado à tarde) «Atlântico» na rádio Antena Miróbriga (Santiago do Cacém). Depois, das sete às dez, ainda na Antena1, António Macedo: o “animal da rádio” como era chamado nas manhãs da TSF. Manhãs que animou durante oito anos. Foram muitos os cruzamentos em estúdio, o último dos quais quando o rendi na sua derradeira emissão na TSF, antes de rumar a um novo (efémero e falhado) projecto chamado Central-FM. A editar as manhãs informativas do primeiro canal da RDP está o jornalista José Guerreiro, outro ex-TSF, com o qual partilhei o mesmo emblema até à sua saída, também para a Central-FM. Mas há muito mais. Por exemplo a jornalista Eduarda Maio, minha colega na TSF durante nove anos. E Tiago Alves, e Miguel Soares, e Teófilo Fernando. Também nas manhãs da Antena1, Alexandre Afonso, jornalista desportivo e relator de futebol, exímio profissional com o qual privei durante um ano na RNA-Rádio Nova Antena. Ainda há semanas, numa tarde de domingo, estive a acompanhar a longa jornada desportiva que conduziu, briosamente, em directo a partir do estúdio principal em Lisboa. E Maria de Flor Pedroso, e Sandy Gageiro, e Fausto Coutinho, e António Cartaxo (sou fã, fã, fã!), do qual apanhei apenas os seus derradeiros dias na TSF. E as jornalistas Maria de São José, e Cláudia Almeida (que, tal com Sandy Gageiro, também fez parte do extenso elenco da série «Como no Cinema»). E Augusto Fernandes, e João Almeida, do qual oiço «Preto no Branco» (com Ana Rocha e Henrique Silveira) nas manhãs de Sábado e «Quinta-essência» (antigamente nas manhãs de Domingo), agora às sextas-feiras (13:00/14:00 ou 23:00/00:00), ambos os programas na Antena2. Mas ainda há mais, e noutras antenas. No RCP, por exemplo, encontro o jornalista Nuno Domingues nas manhãs do renovado Rádio Clube Português, onde também estão os grandes sonoplastas Mário Rui e Paulo Castanheiro; e Fernando Correia, Fernando António, Artur Teixeira, Elisabete Pato, Nuno Castilho de Matos, Ana Cristina Gaspar e Lara Santos.
Na RADAR, animação de Inês Meneses (com ela foram “só” nove anos na TSF) e informação a cargo de Paula Cristina Gomes (com ela foram quatro anos na extinta RSS). Continuo a “rodar o botão” neste raid aéreo pela ondas sonoras, e quem encontro mais? João Paulo Marques, outro jornalista (ex-RSS), ora na informação da RFM, ora na RR. O mesmo acontece com Sónia Santos, mas aqui na área da animação. Sónia já percorreu os actuais três canais da Renascença (Mega FM; RFM; RR). José Coimbra, há anos no «Café da Manhã» da RFM; Carlos Ramos na informação da Antena3. Álvaro Duque (ex-RSS), nas tardes e Ladislau Lucena (noites de sexta-feira) na RDS. Devo estar – certamente – a esquecer-me de alguém… são já tantos e velozes os anos passados. Para já não falar na TV, para onde enveredaram tantos outros dos “meus ex” (SIC; SIC-Notícias; RTP; RTP-N; TVI; etc…) ou na imprensa escrita (DN; Público; 24 Horas; etc…).
Advém de todo este voo rasante à distância, um genuíno sentimento de felicidade. Por ver que pessoas que eu gosto (uns duma maneira, outros doutra; uns mais, outros menos – não interessa!) e com as quais privei profissionalmente, mais ou menos directamente – e ao lado das quais se construiu um bocado de estrada na vida – prosseguem, evoluem e prosperem (assim seja, na medida do possível) nas suas carreiras. O êxito deles (os meus "ex"-colegas) é também um pouco do meu êxito. Advém de todo este voo etéreo um pouco da felicidade na vida que a Rádio ainda pode proporcionar. De vez em quando, lá nos reencontramos nos acasos das ocasiões da vida, numa rua, num centro comercial, numa festa (muito raro) ou num funeral (infelizmente, menos raro). A vida é um corredor de sentido único e, afinal, o que é a Rádio? A Rádio são as pessoas!

O Tal País










Herman José regressou à rádio no passado dia 31 de Março, com uma nova crónica diária de humor, na Antena1. Escutadas as primeira edições, duas constatações. Primeira: Herman José continua a ser um grande humorista; Segunda: Herman José já não é o melhor. Foi ultrapassado por novos talentos, todos eles muitos jovens e muito diferentes dele. E é precisamente por causa de enormíssimas diferenças que se tornaram melhores que o Mestre. Se o tentassem imitar estariam imediatamente liquidados. Herman é inultrapassável no seu estilo, no terreno que ele próprio criou.
A expansão e popularização do formato Stand-up Comedy, o fenómeno Gato Fedorento e outras novas personagens do humor nacional, ofuscaram o brilho intenso – e até há poucos anos sem concorrência a sério – da Hermania.
Actualmente na Rádio, os humoristas que mais aprecio são Nuno Markl na Antena3 e principalmente Bruno Nogueira em «Tubo de Ensaio» na TSF. Outro é o tempo, outro é o modo. O melhor tempo e o melhor modo de Herman José na rádio pertencem ao passado. Mas ele ainda tem a televisão, não tem? Por muito que tentem dizer o contrário, he’s not dead yet.

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O que eles dizem (39)

Marcelo Rebelo de Sousa é sempre notícia?
Por força das minhas rotinas, a segunda-feira é um dia da semana em que, por norma, oiço a TSF no período entre as 6h30 e as 8h00. Reparo, por isso, com frequência que à segunda-feira Marcelo Rebelo de Sousa é quase sempre notícia. Não posso constatá-lo senão impressivamente, mas a verdade é que, pelo menos na TSF (hei-de ver o que fazem as outras rádios também!), as escolhas de Marcelo contêm um grande ‘valor-notícia’. Interrogo-me sobre a pertinência desta opção. Por que razão há-de a opinião do ‘Professor’ ser catapultada sempre (muitas vezes, pelo menos) para além dos limites do próprio programa da RTP? Não corre a TSF (e eventualmente outros órgãos) o risco de ser caixa de ressonância de uma linha de opinião que se constrói semanalmente?

Madalena Oliveira
In: Jornalismo & Comunicação
Segunda-feira, 17 de Março 2008