domingo, 30 de novembro de 2008
bit X 2
Firmino Pereira, mais conhecido por Zito C., é o autor de «bitsounds», o podcast musical que hoje mesmo completa dois anos de edições e está de parabéns pela qualidade e continuidade. «bitsounds» já chegou ao mundo da webradio [Rádio Zero] e vai na edição nº 74. Mas, até ao dia de hoje, há um percurso que vamos agora conhecer na última das entrevistas que desde Fevereiro de 2006 foram sendo aqui publicadas aos podcasters que viriam a formar o núcleo fundador da recentemente inaugurada «Irmandade do Éter».
Mais do que a viagem a uma caixa de música avariada, vamos ficar a saber melhor quem é Firmino Pereira/Zito C., o que pensa e o que tem a dizer sobre Rádio, Música e Podcast.
Entrevista a ZITO C.
Quando aderiste ao Podcast? Como surgiu a ideia?
O primeiro «bitsound» nasceu a 30 de Novembro de 2006, e ainda com muito pouco conhecimento sobre podcasts. A ideia era muito simples, deixo a 'declaração de intenções' publicada na época:
"A experiência de gravar um podcast é semelhante à gravação de uma cassete com a compilação daquelas músicas que gostamos muito e que gostamos de partilhar. A diferença é que as cassetes eram direccionadas para alguém em particular, o podcast não tem público-alvo definido, é para quem o encontre e tenha interesse em ouvi-lo."
Achas que o podcast é uma ameaça à rádio tradicional ou é apenas uma mais valia como foi o aparecimento da Internet?
Não considero que exista qualquer tipo de ameaça, como em quase todas as novas tecnologias, temos que saber tirar o melhor proveito delas. As rádios ditas tradicionais têm sabido tirar o devido proveito desta nova tecnologia ao colocarem já muitos programas no formato podcast. E um podcast serve para muito mais que substituir programas de rádio, é um meio de difusão sonora que cada um pode utilizar a seu belo prazer.
Como vês o panorama actual das rádios em Portugal?
Ainda me considero órfão da extinta XFM. Foi a primeira vez que me identifiquei com uma rádio, com o seu conceito, com os seus objectivos, com quase toda a música, e essencialmente com a forma de fazer rádio. Foi com a XFM que conheci alguma da melhor música que ainda hoje gosto, e foi com a XFM que abri horizontes para tantos novos sons. Depois da XFM virei-me para a TSF, pelas notícias, pelos excelentes programas de autor. Com a mudança que ocorreu na TSF apenas continuo a ouvi-la quando se muda de hora. A Radar tem muitos programas interessantes que acompanho menos do que gostava.
As playlists são um mal necessário? Um mal necessário para as rádios para a viabilidade económica por via das audiências?
Não gosto nada de playlists, aceito a justificação da “viabilidade económica” sem no entanto compreender que à sua conta se deixem cair ou limitem excelentes programas de autor. Uma das vantagens dos podcasts é a liberdade total do seu criador.
O que pensas sobre a actual lei das quotas de música portuguesa na Rádio?
Não consigo perceber como se pode impor a uma rádio privada que passe determinado tipo de música, deve ser uma opção de cada uma. E será que alguém cumpre? Alguém fiscaliza? E se uma rádio não cumprir?
Voltando ao podcast: até onde achas que vai ter este fenómeno?
É apenas mais um meio de divulgação/difusão sonora. Veio para ficar e para conviver pacificamente com a rádio.
O podcast é a salvação para os autores?
O podcast, tal como a webradio, alarga e muito os potenciais ouvintes, e pode ajudar alguns autores/programas que não encontrem espaço na rádio tradicional.
«bitsounds» está na webradio Rádio Zero. Gostarias que o programa «bitsounds» encontrasse espaço numa rádio com maior dimensão?
Nunca vi o «bitsounds» como um programa de rádio, nem nunca tive qualquer pretensão a.
A ideia da Rádio Zero partiu do Pedro Esteves [lado B], que achou por bem recomendar-me ao pessoal da Zero, eles fizeram o convite, eu aceitei. Muito sinceramente não acho que seja um “programa” que justifique passar noutro tipo de rádio.
És ouvinte de rádio? Quando começaste a ouvir e o quê?
Actualmente ouço muito pouca rádio, e aí talvez a culpa seja dos podcasts e dos leitores de mp3. Ouço essencialmente notícias (TSF), e alguns programas de autor da Radar e da TSF.
Ouvir rádio sem ser como ruído de fundo comecei por voltas dos 13/14 anos. Culpa da «Íntima Fracção» do Francisco Amaral. Lembro-me que passava já tarde, e que gravava em cassete para ouvir durante o resto da semana, e para tentar descobrir os nomes que por lá passavam.
Da rádio que actualmente ouves, o que é que não perdes de ouvido?
Como disse ouço cada vez menos música na rádio, dou apenas alguma atenção aos seguintes programas da Radar: «Álbum de Família»; «Discos Voadores»; «S.O.S. Radar» e «Vidro Azul». Os programas que mais gosto na rádio são todos da TSF: «Pessoal... e Transmissível»; «Terra-a-Terra» e «Cais da Matinha».
Quais são os radialistas que mais gostas?
Naturalmente os programas que sigo têm os radialistas que mais gosto: Carlos Vaz Marques e Fernando Alves. Gostaria também de referir os radialistas que melhor sabem "dar música": António Sérgio; Pedro Esteves; Ricardo Mariano; Tiago Castro e Nuno Galopim. Uma nota especial para o excelente trabalho de sonoplastia de Mésicles Helin [da TSF].
Chegaste a ser ouvinte das Rádios piratas?
O mundo das rádios piratas passou-me um pouco ao lado...
Tens tido bom feedback do programa através da Internet e do Podcast?
O feedback que recebo é maioritariamente positivo, naturalmente nestas coisas da Internet quem não gosta vai embora sem deixar feedback.
Queres continuar a estar presente na rádio?
O «bitsounds» é um podcast que passa no éter virtual da Rádio Zero.
Penso continuar neste formato.
O que pensas do actual panorama radiofónico em Portugal?
Por cá há alguns programas muito bons, e rádios que tentam manter-se num mercado altamente competitivo. Como nos outros meios de comunicação social a competitividade nem sempre favorece a qualidade. O que menos gosto na maioria das rádios ditas comerciais é a falta de atenção que se dá à música. Mesmo em formato playlist as escolhas podiam ser mais interessantes, não arriscam nada, preferem dar às pessoas o que estas já conhecem.
Em tua opinião, qual seria/será a saída ou a salvação para a actual rádio tradicional?
A Rádio tem que se adaptar à constante mudança tecnológica. O desafio é partilhado com jornais e mesmo a televisão. Saber o quem, quando e como se ouve Rádio é fundamental, e principalmente não ignorar as novas tecnologias, antes saber tirar o máximo partido delas para chegar a cada vez mais ouvintes.
Já pensaste em dar voz – viva voz – às edições de «bitsounds »? Fazer a apresentação do alinhamento, por exemplo, como se fosse um programa de Rádio?
A questão da voz nunca foi equacionada para o «bitsounds», o formato não ajuda. A composição do «bitsounds» faz-se de muitos cortes e colagens de sons, sempre em camadas. O alinhamento que tento dar em texto escrito não é fiável, serve como referência. Com o «bitsounds» no alinhamento da Rádio Zero vou dando algumas pistas - em voz viva - sobre o que se vai passar no programa, e por agora fico-me por aqui. A voz masculina que apareceu algumas vezes, poucas, é minha.
De quem é a voz feminina no marcador de cada emissão de «bitsounds»?
A voz feminina é da Lara Ribeiro, uma “descoberta” do “caça-talentos” Pedro 'B' Esteves.
A música portuguesa ou em português está fora de «bitsounds». Alguma razão especial para isso ou é mera questão estética?
A falta de música portuguesa no «bitsounds» deve-se exclusivamente ao meu pouco, e lamentável, eu sei, conhecimento da música que se faz por cá. E ainda para pior, pelo «bitsounds» passa música de tantos e tantos países... um ponto a melhorar no futuro.
«Beating The Pearls» é um outro podcast ao qual estás ligado. O que é realmente?
O conceito do «Beating The Pearls» é simples: permitir que convidados façam um podcast, onde lhes é proposto:
"partilhar músicas esquecidas por muitos, desconhecidas por outros tantos, músicas fora de tempo, músicas gravadas na memória para sempre que necessitam de ser libertadas, que merecem voltar..."
Eu dou apoio técnico sempre que necessário.
«bitsounds»: http://bitsounds.blogspot.com/
«bitsounds» na Rádio Zero: 3ª feira (18:00/19:00):
http://www.radiozero.pt/programs/bit-sounds/
Mais sobre «bitsounds» na «Rádio Crítica: (17.Março.2008)
Outras entrevistas na «Rádio Crítica»:
Pedro Esteves (ladoB) 11.Fevereiro.2006
Ricardo Mariano (Vidro Azul) 18.Fevereiro.2006
Francisco Amaral (Íntima Fracção) 25.Fevereiro.2006
Nídio Amado ([percepções]; O Cubo) 07.Março.2006
Hugo Pinto (Miss Tapes) 17.Novembro.2008
domingo, 23 de novembro de 2008
Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (31)
João NUNCA fez um playback na vida, excepto no Cinema, no filme “Copacabana Palace”. Ou tocava e cantava ele próprio, ou então não actuaria. Daí – mas não só por isso – existirem tão poucas actuações dele na TV. Esta é a gravação da Televisão pública Italiana (Raidue) de uma histórica actuação de João Gilberto no conceituado Festival de Jazz de Umbria, Itália, em 1996.
(João Gilberto)
sábado, 22 de novembro de 2008
O Álbum Branco faz hoje 40 anos
Ficou conhecido pelo nome de «The White Álbum», mas o verdadeiro nome do duplo disco dos Beatles chama-se exactamente «The Beatles». Foi editado no dia 22 de Novembro de 1968. Faz hoje 40 anos.
As quatro décadas de um dos mais significativos marcos da história pop/rock da segunda metade do século XX está a passar – literalmente – ‘em branco’ na Rádio em Portuguesa.
Mas há ainda (e até quando?) as excepções do costume. Felizmente que as excepções do costume mantêm a regra da pontualidade nestas alturas. É o caso do programa «Discos Voadores», de Nuno Galopim na RADAR. O jornalista do DN e autor do programa dedica a segunda de duas horas da emissão de «Discos Voadores» deste fim-de-semana a uma viagem ao passado, recordando alguns dos temas do «Álbum Branco» dos The Beatles. A indiferença da Rádio de maior dimensão em Portugal continua a passar ao lado do que é realmente importante na cultura musical. Em 2007 fizera o mesmo com os 40 anos do álbum «Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band» e, já neste ano de 2008, teve igual e reprovável comportamento na celebração de meio-século de Bossa Nova.
Pelo menos na RADAR, haverá a lembrança do «White Album» dos The Beatles.
The Beatles – “While My Guitar Gently Weeps” [The White Album] 1968
«Discos Voadores»,
Hoje, sábado (18:00/20:00) e amanhã, Domingo (20:00/22:00)
RADAR (Lisboa) 97.8 FM
Radar na Internet: http://www.radarlisboa.fm/
Mais sobre «Discos Voadores» e Nuno Galopim na «Rádio Crítica»: 26.Setembro.2005
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
ladoB #200
Uma emissão especial e com vários convidados:
Telma Esteves (produção e apresentação); Ricardo Mariano («Pulsar»); Pedro Marques Pereira (Projecto Fuga); Ana Bravo (voz off); Sara Spade; Francisco Mateus («Linhas Cruzadas»); Scott Levesque (Wheat); Daniel Esch.
Falar do programa «ladoB» é falar inevitavelmente do seu autor, Pedro Esteves. Estamos todos aqui hoje a celebrar as duzentas emissões, a dar os parabéns a um espaço que desde 2004 nos tem trazido novos sons aos nossos ouvidos. E falar da importância do programa «ladoB» é falar também da importância que um espaço destes tem no actual panorama da Rádio que se pratica em Portugal, um panorama muito redutor - muito fraco - nas propostas musicais que apresenta. Todos nós temos a ganhar com o «ladoB» porque são espaços sonoros assim que nos trazem o novo e a novidade.
«ladoB» é divulgação e é descoberta!
Para mim é um privilégio ser ouvinte e colaborador do «ladoB». Colaborador desde Janeiro de 2006 com a crónica mensal «Linhas Cruzadas». Nessa primeira participação minha no «ladoB» trouxe ao programa uma das canções (On Some Faraway Beach) do primeiro álbum a solo de Brian Eno [Here Come The Warm Jets] e é com essa mesma canção que dou os parabéns ao companheiro da Rádio e amigo Pedro Esteves, renovando também os votos de muita força e coragem para continuar o «ladoB» por muito mais tempo.
A beleza de uma praia pode ser o paraíso de uma vida ou o inferno de muitas outrasBrian Eno – “On Some Faraway Beach” [Here Come The Warm Jets] 1973
Mais sobre «ladoB» e Pedro Esteves na «Rádio Crítica»:
ladoB (05.Maio.2005); Entrevista (11.Fevereiro.2006)
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (30)
Quero vivê-lo em cada vão momento
E assim, quando mais tarde me procure
Eu possa me dizer do amor que tive:
(Tom Jobim/Vinicius De Moraes)
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (29)
Wilson Simonal de Castro (1939-2000) é talvez o nome mais obscuro e esquecido da Bossa Nova. Simonal foi um artista de muito sucesso nos anos 60 e 70. Pela mão do compositor e músico Ronaldo Bôscoli foi parar ao “Beco das Garrafas”, que nos anos 50 era o reduto da Bossa Nova no Rio de Janeiro. “Beco das Garrafas” era a rua onde se situava um conjunto de estabelecimentos nocturnos, no bairro carioca de Copacabana. Nos anos 50, o “Beco das Garrafas” era frequentado pelos artistas mais boémios da Bossa Nova. Consta que João Gilberto nunca lá pôs os pés. A alcunha de “Beco das Garrafas” deve-se à pratica dos moradores em atirarem garrafas vazias sobre os boémios mais barulhentos que saíam dos bares a altas horas da noite.
João Gilberto, o recluso, gravou “Lobo Bobo” no dia 4 de Fevereiro de 1959, em pleno Verão carioca. É um dos clássicos da Bossa Nova com o texto mais infantil, a par de “O Pato”.
Nas imagens, a interpretação de "Lobo Bobo" pelo esquecido Wilson Simonal, ao vivo na TV-Record em 1969.
Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.
LOBO BOBO
(Ronaldo Bôscoli/Carlos Lyra)
Era uma vez um lobo mau que resolveu jantar alguém, estava sem vintém, mas arriscou e logo se estrepou. Um chapéuzinho de Maio ouviu buzina e não parou, mas lobo mau insiste, faz cara de triste. Mas chapéuzinho ouviu os conselhos da vóvó dizer que não para o lobo, que com lobo não fica só. Lobo canta, pede, promete tudo - até amor - e diz que fraco de lobo é ver um chapéuzinho de Maio. Chapéuzinho percebeu que o lobo mau se derreteu. Para ver vocês que lobo também faz papel de bobo. Só posso lhe dizer chapéuzinho agora traz um lobo na coleira que não janta nunca mais. Lobo bobo...
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (28)
Baden Powell (1937-2000) foi um dos nomes pioneiros da Bossa Nova, mas viria a abandonar o movimento para, em conjunto com Vinicius de Moraes, formarem um outro e novo movimento conhecido por «Os Afro-Sambas». Vinicius deixara também, por sua vez, a Bossa Nova. Esta nova aventura artística dos dois compositores foi encarada como um contra-movimento em relação à Bossa Nova. Ambos desmentiram e o tempo veio a confirmar que tinham razão. Powell e Vinicius nunca abandonaram por completo a Bossa Nova. Apenas quiseram expandir a sua arte por novos territórios da música brasileira, por possuírem talentos que não se resignavam a um só estilo.
Baden Powell, virtuoso guitarrista, aqui em dueto com a cantora Dulce Nunes, numa actuação na Televisão alemã em 1971.
João Gilberto gravou “Aos Pés da Santa Cruz” no dia 4 de Fevereiro de 1959 (há um vídeo com a interpretação de João ao vivo em Barcelona no ano 2000, mas de muito fraca qualidade de gravação. O violão nem se ouve…).
AOS PÉS DA CRUZ
(Marino Pinto / Zé da Zilda)
Aos pés da Santa Cruz você se ajoelhou
Em nome de Jesus um grande amor você jurou
Jurou, mas não cumpriu, fingiu e me enganou
Para mim você mentiu
Para Deus você pecou
O coração tem razões que a própria razão desconhece
Faz promessas e juras, depois esquece
Seguindo o mesmo princípio você também prometeu
Chegou até a jurar um grande amor
Mas depois esqueceu
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Miss 70
«Miss Tapes» completou, por estes dias, dois anos. Dois anos de, tal como refere o autor Hugo Pinto: Muitas interrupções, desmaios e devaneios depois, chega-se à edição 69 não sem algum espanto. Mas nem tanto. Afinal, a música nunca acaba. Teremos sempre o silêncio.
Aderi ao Podcast, como utilizador, em Novembro de 2006. A ideia surgiu devido à facilidade que hoje existe em podermos publicar e partilhar muito do que, também com extrema facilidade de meios, podemos produzir apenas com um computador ligado à Internet. Neste caso, podcasts musicais.
A ideia, em si mesma, é triste. A obrigação não deveria ser um critério para a escolha das músicas que passam ou não na Rádio.
Já foi. Há inúmeros casos de sucesso à escala global de diferentes géneros de podcasts. Num certo sentido, vão mais longe do que muitos (a maioria) dos órgãos de comunicação dos meios "tradicionais" jamais poderão ir.
Num cenário em que a Rádio não tem espaço para os autores, acho que o podcast é um meio perfeitamente adequado a que possam continuar a desenvolver o seu trabalho e a partilhá-lo.
Era um ouvinte ocasional, em Portugal. Além dos serviços informativos e, às vezes por necessidade, dos relatos do futebol, pouco mais ouvia nas antenas nacionais. No início dos anos 90 ouvia esporadicamente o «Som da Frente», do António Sérgio, na Rádio Comercial. Mas a verdadeira experiência de ouvir Rádio começou com a «Íntima Fracção», em meados dessa década. Nunca mais ouvi nada assim; não só mudou a minha forma de ouvir música como também mudou a forma de relacionar várias referências (música, literatura, cinema). E, claro, mudou a minha percepção da Rádio, de uma certa ideia da Rádio.
Era demasiado jovem nessa altura. Passava mais tempo a desarrumar os vinis lá de casa.
Acompanhar os tempos.
domingo, 16 de novembro de 2008
Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (27)
Beleza, complexidade e sofisticação. São os três adjectivos que definem por inteiro o conceito da Bossa Nova. Juntar três universos tão diferentes resultou na abertura de um outro e novo universo que se reinventa a cada geração e mantém-se maravilhosamente fresco.
De regresso às composições de António Carlos Jobim encontramos esses três adjectivos numa única e simples canção. Retrato do amor de Jobim pela cidade que o viu nascer (25 de Janeiro de 1927). A ele, e à Bossa Nova. Retrato da chegada de Jobim ao Rio de Janeiro (nos anos 50 era considerada a cidade mais bela do mundo) a bordo de um avião.
Depois da morte de Jobim (8 de Dezembro 1994), o aeroporto do Rio de Janeiro – o Galeão, como diz a canção – foi rebaptizado com o nome de Aeroporto Internacional António Carlos Jobim.
Canta, João, canta!
SAMBA DO AVIÃO
(Tom Jobim)
Minha alma canta
Vejo o Rio de Janeiro
Estou morrendo de saudades
Rio, seu mar
Praia sem fim
Rio, você foi feito para mim
Cristo Redentor
Braços abertos sobre a Guanabara
Este samba é só porque
Rio, eu gosto de você
A morena vai sambar
Seu corpo todo balançar
Rio de sol, de céu, de mar
Dentro de um minuto estaremos no Galeão
Aperte o cinto, vamos chegar
Água brilhando, olha a pista chegando
E vamos nós
Aterrar
sábado, 15 de novembro de 2008
Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (26)
Alfredo da Rocha Viana Filho (1897–1973), conhecido como Pixinguinha, não foi um dos muitos nomes da Bossa Nova. Foi antes um dos artistas mais importantes da Música Popular Brasileira, especialmente do estilo Choro. Foi até criado no Brasil o «Dia Nacional do Choro» (23 de Abril) em homenagem ao nascimento de Pixinguinha.
A canção “Carinhoso” foi composta por Pixinguinha entre 1916 e 1917 e voltou às bocas do mundo pela onda da Bossa Nova, especialmente na versão de João Gilberto. João tem o grande dom de tornar as suas versões como as definitivas de quase todos os temas que interpreta. E este “Carinhoso” não é excepção.
Há uma recente versão desta canção por Marisa Monte e Paulinho da Viola. Ver e ouvir aqui
Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.
CARINHOSO
(Pixinguinha/João de Barro)
Meu coração
Não sei porque
Bate feliz, quando te vê
E os meus olhos ficam sorrindo
E pelas ruas vão te seguindo
Mas mesmo assim, foges de mim
Ah! Se tu soubesses
Como sou tão carinhoso
E muito e muito que te quero
E como é sincero o meu amor
Eu sei que tu não fugirias mais de mim
Vem, vem, vem, vem
Vem sentir o calor
Dos lábios meus
À procura dos teus
Vem matar esta paixão
Que me devora o coração
E só assim então
Serei feliz, bem feliz
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (25)
João Gilbero gravou “Morena Boca de Ouro” pela primeira vez no dia 30 de Janeiro de 1959.
(Ary Barroso)
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (24)
(Ary Barroso)
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Irmandade do Éter
Nasceu a «IRMANDADE DO ÉTER»
Desejam devolver à arte radiofónica a sua pureza e honestidade anteriores. Independentemente do tema tratado, torna-se essencial que a obra transmita uma ideia autêntica, fruto da individualidade do autor. Este não tem de se submeter a regras rígidas e castradoras de construção, deve antes ser livre na sua criação artística. O autor aspira à beleza poética, à representação além da realidade audível: trabalha-se com a matéria da alma e a espiritualidade. Esta representação do "sonho" vai-se traduzir formalmente na busca da harmonia e equilíbrio entre os elementos.
É um projecto colectivo que simultaneamente agrega os espaços pessoais de cada um dos membros. Todos os dias cada um dos elementos publica um post. A «Irmandade do Éter» está a arrancar esta semana e é fundada pelos seguintes radialistas/podcasters/bloggers:
Francisco Amaral – «Íntima Fracção»
Hugo Pinto – «Miss Tapes»
Ricardo Mariano – «Vidro Azul»
Pedro Esteves – «lado B»
Zito C. – «bitsounds»
Nídio Amado – «O Cubo»
Francisco Mateus – «Rádio Crítica»
Todos desejam devolver à arte radiofónica a sua pureza e honestidade anteriores. E já está 'no Ar' em: http://irmandadedoeter.blogspot.com/
Para que resulte o possível deve ser tentado o impossível
Hermann Hesse
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (23)
João Gilberto foi a maior influência das gerações de músicos brasileiros que lhe sucederam. Caetano Veloso é o exemplo máximo, mas houve e há muitos mais. Digamos que há um tempo antes de João e da Bossa Nova e um tempo depois.
Em 1981 João Gilberto foi convidado por músicos da geração que o sucedeu para gravarem um disco em conjunto. Assim nasceu o histórico encontro entre o Mestre e os discípulos Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia. É desse encontro que data a fotografia acima publicada, no álbum «Brasil».
Já muitos anos depois, ao vivo em Buenos Aires, no ano 2000, o reencontro de João e Caetano. “Meditação” é uma das mais aclamadas composições da dupla Jobim/Mendonça. João Gilberto gravou-a pela primeira vez no dia 28 de Março de 1960.
Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.
MEDITAÇÃO
(Antonio Carlos Jobim / Newton Mendonça)
Quem acreditou
No amor, no sorriso, na flor
Então sonhou, sonhou
E perdeu a paz
O amor, o sorriso e a flor
Se transformam depressa demais
Quem no coração
Abrigou a tristeza de ver
Tudo isso se perder
E na solidão
Procurou um caminho e seguiu
Já descrente de um dia feliz
Quem chorou, chorou
E tanto que seu pranto já secou
Quem depois voltou
Ao amor, ao sorriso e à flor
Então tudo encontrou
Pois a própria dor
Revelou o caminho do amor
E a tristeza acabou
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (22)
Toquinho acrescenta na parte final desta interpretação as últimas estrofes da canção “Se Todos Fossem Iguais a Você”, também da autoria de Jobim. Esta última conheceu a sua versão definitiva na voz da cantora Maysa Matarazzo, a Condessa Descalça como era conhecida.
(Tom Jobim)
Este seu olhar
domingo, 9 de novembro de 2008
Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (21)
João Gilberto gravou pela primeira vez esta canção no dia 5 de Abril de 1960.
A versão sonora aqui apresentada é do próprio autor, António Carlos Jobim, cantando em Inglês «Once Again».
O vídeo mostra uma fotomontagem a partir de imagens do filme «Masculin, Féminin» (1966) do realizador Francês Jean-Luc Godard, utilizando fotografias da actriz e cantora francesa Chantal Goya, protagonista desse filme.
(Antonio Carlos Jobim)
Outra vez
sábado, 8 de novembro de 2008
Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (20)
Ele Veio da Bahia
João Gilberto Prado Pereira de Oliveira nasceu em Juazeiro, cidade sertaneja da Bahia, no dia 10 de Junho de 1931.
João Gilberto é o “anti-herói” da música brasileira.
É conhecido pela sua imensa timidez. Diz-se que o seu apuradíssimo perfeccionismo o torna numa pessoa muitas vezes insuportável. Adora o silêncio, mas é capaz de ficar horas e horas a cantar ao som sincopado da batida do seu violão. E aquela voz… aquela voz murmurada, sussurrada, como um sopro quente duma brisa de Verão. Discreto e suave, extremamente melodioso e tropical.
Fechado por vontade própria no seu apartamento, João passa os dias e as noites a aperfeiçoar os seus temas. As suas aparições em público são escassas. Encomenda a comida por telefone e vão-lha levar a casa. Não recebe visitas, excepto a sua filha Bebel. É um génio criador, permanentemente a recriar-se e a nunca estar completamente satisfeito. O mais recente disco que gravou data de 1999.
Há quem não o compreenda e João sentiu isso na pele. Ingratidão e falta de respeito foram coisas que não lhe pouparam em algumas actuações ao vivo. Mesmo na sua terra natal. Mesmo antes de poder soltar a primeira nota, como se pode constatar
aqui
Mas dos fracos não reza a História… e eles passaram; João ficou!
Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.
EU VIM DA BAHIA
(Gilberto Gil)
Eu vim
Eu vim da Bahia cantar
Eu vim da Bahia contar
Tanta coisa bonita que tem
Na Bahia, que é o meu lugar
Tem o meu chão, tem o meu mar
A Bahia que vive para dizer
Como é que se faz para viver
Onde a gente não tem para comer
Mas de fome não morre
Porque na Bahia tem mãe Iemanjá
De outro lado o Senhor do Bonfim
Que ajuda o baiano a viver
Para cantar, para sambar para valer
Para morrer de alegria
Na festa de rua, no samba de roda
Na noite de lua, no canto do mar
Eu vim da BahiaMas eu volto para lá
Eu vim da Bahia
Mas um dia eu volto para lá
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (19)
Imagens repletas de história retiradas das páginas mais representativas da Bossa Nova. João Gilberto e o seu violão em 1961. Era o apogeu do movimento com maior significado alguma vez ocorrido na história da música em Português.
João Gilberto é uma personagem controversa e, por vezes (muitas vezes e muito injustamente) mal amado. No seu próprio país já foi vaiado e no seu próprio país retirou-se de palco. Viveu anos em Nova Iorque, mas voltou à sua terra de sempre. Actualmente vive sozinho num apartamento no Leblon, no Rio de Janeiro. É considerado um Papa no Brasil. Uma espécie de santíssima entidade eremita. Não dá entrevistas, não sai de casa e muito raramente dá espectáculos. Há cinco anos cancelou a actuação prevista e agendada para o Coliseu dos Recreios em Lisboa.
A inexorável passagem do tempo… Nas primeiras imagens (a preto e branco) João Gilberto em 1961. No segundo vídeo (ao vivo num registo amador), o mesmo João ao vivo em Barcelona no ano 2000. Trinta e nove anos separam as duas imagens e João Gilberto mantém o mesmo samba com a mestria de sempre.
Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.
SAMBA DA MINHA TERRA
(Dorival Caymmi)
Samba da minha terra deixa a gente mole
Quando se canta todo mundo bole
Quando se canta todo mundo bole
Quem não gosta de samba bom sujeito não é
É ruim da cabeça ou doente do pé
Eu nasci com o samba no samba me criei
E do danado do samba nunca me separei
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (18)
Do imenso songbook do coração do movimento, a canção “Dindi”. Outras grandes interpretações deste tema: Ella Fitzgerald (ao vivo em Montreux, 1979); Frank Sinatra (1967); Astrud Gilberto e Rosa Passos (a chamada João Gilberto de Saias).
Neste vídeo, o encontro de António Carlos Jobim ao vivo com Gal Costa.
Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.
DINDI
(Antonio Carlos Jobim/Aloysio de Oliveira/Ray Gilbert)
Céu, tão grande é o céu
E bandos de nuvens que passam ligeiras
Para onde elas vão, ah, eu não sei, não sei
E o vento que toca nas folhas
Contando as histórias que são de ninguém
Mas que são minhas e de você também
Ai, Dindi
Se soubesses o bem que eu te quero
O mundo seria, Dindi, tudo, Dindi, lindo, Dindi
Ai, Dindi
Se um dia você for embora me leva contigo, Dindi
Olha, Dindi, fica, Dindi
E as águas desse rio
Onde vão, eu não sei
A minha vida inteira, esperei, esperei por você, Dindi
Que é a coisa mais linda que existe
É, você não existe, Dindi
Versão em Inglês
Sky, so vast is the sky
With faraway clouds just wandering by
Where do they go Oh!
I don't know, don't know...
Wind that speaks to the leaves
Telling stories that no one believes
Stories of love
Belong to you and me
Oh! Dindi
If I only had words
I would say all the beautiful things that
I see when you're with me
Oh, my Dindi
Oh, Dindi
Like the song of the wind in the trees that's how my heart is singing,
Dindi Happy, Dindi, when you're with me
I love you more each day, yes
I do, yes
I do I'd let you go away if you'd take me with you
Don't you know,
Dindi I'd be running and searching for you like a river that can't find the sea
That would be me
Without you, Dindi
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (17)
A capa do disco mostra a edição da interpretação de João Gilberto, mas as imagens do vídeo referem-se à gravação original de António Carlos Jobim. É, de resto, a interpretação mais conhecida. Num recente espectáculo na TV-Globo, na celebração dos 50 anos da Bossa Nova, Caetano Veloso (discípulo de João Gilberto) cantou ao vivo “Ela é Carioca”. São também mais que muitas as versões deste tema e em várias línguas.
Há, da mesma altura (1967), uma versão bilingue – maioritariamente em Inglês – também interpretada por Jobim.
Ouvir aqui
Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.
ELA É CARIOCA
(Tom Jobim/Vinicius de Moraes)
Ela é carioca
Ela é carioca
Basta o jeitinho dela andar
Nem ninguém tem carinho assim para dar
Eu vejo na luz dos seus olhos
As noites do Rio ao luar
Vejo a mesma luz
Vejo o mesmo céu
Vejo o mesmo mar
Ela é meu amor, só me vê a mim
A mim que vivi para encontrar
Na luz do seu olhar A paz que sonhei
Só sei que sou louco por ela
E para mim ela é linda demais
E além do mais
Ela é carioca
Ela é carioca
Só sei que sou louco por ela
E para mim ela é linda demais
E além do mais
Ela é carioca
Ela é carioca
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (16)
Há uma magnífica interpretação por Frank Sinatra – que canta o título “Água de Beber” em Português! Esta versão conta com a participação de António Carlos Jobim (em dueto com Sinatra) e é quase toda interpretada em Inglês.
Ouvir aqui
Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.
Água de beber
Água de beber camará
Água de beber
Água de beber camará
ÁGUA DE BEBER
(Tom Jobim)
Eu quis amar, mas tive medo
E quis salvar meu coração
Mas o amor sabe um segredo
O medo pode matar o seu coração
Eu nunca fiz coisa tão certa
Entrei para a escola do perdão
A minha casa vive aberta
Abri todas as portas do coração
Eu sempre tive uma certeza
Que só me deu desilusão
É que o amor é uma tristeza
Muita mágoa demais para um coração